Opinião

Carta aberta a Quem de Direito

Edna Cauxeiro

Excelência, espero que a minha mensagem o encontre de boa saúde física, psicológica e financeira, nesses tempos em que a crise tornou-se a rainha do mundo e governa a vida de toda a gente.

31/03/2024  Última atualização 11H01

Quem de Direito, já lá se vão os tempos em que o meu salário não desgrudava de mim. Ficava comigo ainda que outros salários o tentassem substituir a cada mês. Hoje, para minha infelicidade, ele chega e vai-se embora no mesmo dia. Nem sequer espera o fim de um mês dar lugar a outro. Parece um marido que se encantou por outra mulher na rua e deixou de amar a esposa.

Prezado Quem de Direito, o senhor também fica em dúvida se compra comida, se paga o colégio do seu filho, se compra peças para o seu carro ou paga serviços como água, energia eléctrica e TV?

Os seus colegas também reclamam consigo dizendo que ficam ansiosos pela chegada do salário e muito tristes porque quando o dinheiro chega vai-se embora em poucas horas?

Digníssimo Quem de Direito, antes que me diga que somos, os meus colegas e eu, maus gestores financeiros, deixa-me que lhe escreva o seguinte: o senhor está consciente do preço da comida? Tanto frescos quanto congelados custam os olhos da cara!

O senhor também compra meias caixas de frescos e meios sacos de arroz, feijão, açúcar, fuba e etecetera, para poder ter variedade de comida em casa, ainda que os alimentos não durem o mês inteiro?

Caríssimo Quem de Direito, hoje peço a sua intervenção, como figura importante no país e pessoa de respeito na Nação Angolana, mas não só, no sentido de convencer o meu salário a permanecer ao meu lado durante todo o mês, sem  se encantar por outras senhoras.

O senhor tem poder para unir todos os angolanos aos seus salários, por formas a que não haja  separações entre a pessoa que trabalha e o dinheiro que lhe é pago.

Ilustre Quem de Direito, os angolanos estão tristes e cabisbaixos. A maioria já nem sequer consegue comer com o salário que aufere. Angola transformou-se num país de esfomeados, de gente que trabalha, que dá o seu melhor, mas não consegue, sequer, comer durante todo o mês, com esse salário exíguo que aufere.

O senhor tem poder para mudar esse quadro e devolver a alegria e a boa disposição aos angolanos. Uma nação esfomeada é uma nação improdutiva, que cedo ou tarde albergará filhos criminosos e doentes (mental e fisicamente).

Dilecto quem de Direito, aproveito o ensejo para abordar consigo outro tema importante, que é a saúde. O senhor também trata da sua saúde na diáspora? Porque em Angola é complicado. No hospital público as pessoas são hostilizadas. Nas clínicas privadas a saúde custa os olhos da cara. E com esse salário que foge do bolso dos angolanos no mesmo dia em que chega, é impossível viajar para tratar da saúde fora do país.

"No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás”.

Génesis 3:19.

Quem de Direito, peço-lhe encarecidamente que faça alguma coisa para que os angolanos possam come fruto do suor do seu rosto, tal como recomendam as escrituras sagradas.

Benquisto Quem de Direito, o senhor tem poder para fazer com que o meu salário me queira de volta. Por favor, peço-lhe que me ajude a resolver essa questão.

Ciente de que o assunto merecerá de sua parte especial atenção, despeço-me com elevada estima e consideração.

Luanda, 30 de Março de 2024.

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