Economia

Desafios, Conflitos e as Oportunidades para lá da Cortina (final)

Rui Malaquias

Economista e Mestre em Finanças

No caso de Angola, o fraco crescimento de 0,5%, foi atribuído a fatores mais internos, relativos à deficiente política de liderança atribuída ao sector petrolífero anterior a 2017, pois as concessões foram interrompidas e o desinvestimento no sector foi notório, pois apenas em 2023 os novos campos entraram em fase de maturação e naturalmente a produção foi diminuindo nos últimos anos.

17/02/2024  Última atualização 12H58
Operadores do sector petrolífero © Fotografia por: DR
A redução na produção, ainda que com preços relativamente altos, levou o Estado angolano a reduzir significativamente a despesa publica no mesmo período, e assim sendo, para a nossa realidade económica, em que as empresas infelizmente prestam maioritariamente serviços ao Estado, qualquer corte da despesa publica afeta diretamente o produto interno bruto.

A nossa economia é sensível às variações do preço do barril de petróleo e isso já se sabe, contudo o que se pôde perceber, é que a redução da produção esta ligada à forma como antes de 2017 a governação conduziu o sector petrolífero, portanto são fatores internos que, de alguma forma, podemos controlar, pois o mercado internacional hoje está "favorável” para quem produz e exporta, pois os conflitos latentes ,referidos acima, reduzem as quantidades oferecidas e aumentam a incerteza dos compradores e quando assim acontece o mercado reage de forma natural para um acréscimo da procura e consequentemente do preço.

O que estamos a dizer é que, com as condições geopolíticas mundiais atuais os preços do petróleo devem se manter altos e Angola deve rapidamente aumentar os níveis de produção, e relançar a bases para que nos próximos anos a produção continue e a subir. Na verdade, este trabalho já está em marcha, daí a saída muito oportuna da OPEP, que liberta Angola das amarras do cartel, projetando o país para cenários de receitas petrolíferas crescentes, e assim maior capacidade de financiar o esforço de atração de investimento privado, industrialização e continuação da politica de investimento publico.

Não nos cansamos de afirmar, que se alguém alguma vez tentou, ou tentar vender a ideia que, para Angola, o sector não petrolífero tem alguma chance de crescimento sem um sector petrolífero pujante, por favor não compre, pois apenas o sector petrolífero pode aportar as divisas, a visibilidade e credibilidade financeira para que o sector não petrolífero cresça, não tenhamos duvidas que os investidores externos sabem que investir numa economia "regada” de receitas petrolíferas é menos arriscado e mais vantajoso do que numa económica de igual estrutura de risco, com potencial inexistente de receitas petrolíferas ou de outra espécie.

Em economias a necessitar de reaquecimento, o investimento publico, mais especificamente em obras publicas torna-se um fator decisivo, pois se nos lembrar-mos de um dos trunfos do "america great again”,  de Donald Trump, foi pôr em marcha um ambicioso programa de obras publicas, mesmo se percebeu nos países europeus e forma mais visível, Portugal, que canalizou e até hoje canaliza, parte muito significativa dos fundos comunitários europeus para infra-estruturas necessárias ao seu desenvolvimento ao mesmo tempo que reaquece o mercado interno.

O mesmo caminho Angola deve seguir, mesmo não tendo a pujança da economia americana, que gera impostos suficientes para de recompor sozinha ou os fundos comunitários que ajudaram Portugal a  tornar-se país de facto, tem sim uma janela de oportunidade importante este ano, que através do sector petrolífero é possível potenciar o crescimento do sector não petrolífero e do próprio sector perolífero, numa ótica da sustentabilidade e emancipação dos quadros nacionais na industria.

Objetivamente, no nosso caso, a importância de mais e melhores obras publicas tem um efeito mais profundo sobre a vida das famílias e das empresas, pois apenas as obras estruturais facilitam a implantação empresarial e aumentam a fluidez nos mercados nacionais, concorrendo rapidamente para a maturação e imposição, de uma vez por todas, da produção nacional, induzindo desta forma a substituição das importações, criando valor internamente para os produtos nacionais e criando empregos mais dignos em território nacional.

Esperemos que a governação aproveite esta janela criada pela instabilidade mundial, para capitalizar na absorção de investimentos no sector petrolífero (que por norma atrai muitos outros investimentos estrangeiros privados) e elevar a produção petrolífera, para ter condições de operacionalizar ambiciosos programas de obras publicas, aprender com a experiência do primeiro PIIM e expandi-lo pelo país, mas como não poderia deixar de ser, melhora-lo em todas as dimensões possíveis, pertinência, qualidade e fiscalização das obras.

Por outro lado, continuar de forma coerente e com o olho na boa despesa, obras que facilitem a criação de infra-estruturas básicas e reduzam os custos de estrutura das fabricas e investimentos agrícolas em todo o país, para que, no futuro os investidores privados, nacionais ou estrangeiros, não fiquem dependentes de programas estatais para relançar a produção nacional, serem eles próprios a criar empregos e serem os atores principais desta economia que se quer mercado, para que rapidamente estes possam ombrear com os seus pares da Africa austral.

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