Opinião

Dignidade devida às pessoas enquanto vivas

Diz a Constituição que Angola é uma “república baseada na dignidade da pessoa humana”, um pressuposto importante que, entre muitas leituras, indica que nos pretendemos assumir como um país que deve garantir, em todas as circunstâncias, as condições básicas de vida digna a todos.

19/04/2024  Última atualização 06H50

Tal como muitas vezes se diz, a vida e o percurso das pessoas são determinados, na maioria dos casos, não como começa e se desenrola, mas fundamentalmente como terminam os últimos dias. Temos assistido à forma como numerosas figuras que se distinguem, nas mais variadas esferas da vida, terminam as suas carreiras, nem sempre com a dignidade esperada e depois, não raras vezes, sem as condições mínimas para tratar da saúde, alimentar-se ou cuidar de dependentes. 

A promessa do ministro da Juventude e Desportos de prestar maior atenção aos antigos desportistas, de forma a evitar que caiam no esquecimento, formulada durante o velório do malogrado basquetebolista, Ângelo Victoriano, falecido aos 56 anos de idade, constitui, acima de tudo, um repto à sociedade, ao Estado e às instituições.

Obviamente, no que a parte institucional diz respeito, o ministro Rui de Andrade assumiu, como era de esperar, a parte que cabe e caberá ao Governo, de passar a olhar para a condição dos antigos desportistas que, como mostra o histórico, experimentam uma vida pós-desportiva nem sempre digna do percurso percorrido.

Na verdade, o gesto manifestado pelo ministro da Juventude e Desportos devia ser transversal a todos os sectores da sociedade para que os bons exemplos de vida e de carreira não acabem, em condições normais, como experiências menos boas do ponto de vista social. Temos na sociedade, e sempre tivemos histórias de sucesso de pessoas que se empenharam ao ponto de deixarem marcas indeléveis para as quais muitos olham como exemplo a ser seguido.

No desporto, na música, no teatro, na dança, assim como nas profissões liberais deve existir a iniciativa de não apenas se reconhecer o papel desempenhado com distinção, mas também de, excepcionalmente, ajudar as pessoas que se tenham destacado e que, por contingências da vida, venham a passar por momentos de necessidade.

Enquanto sociedade que se quer meritocrática, não será exagerado esperar que as instituições do Estado passem a tratar com a atenção e dignidade devidas a quem se tenha distinguido, a quem tenha dado o melhor de si para o bem-estar colectivo e o desenvolvimento de Angola.

É verdade que as más escolhas e decisões erradas ao longo da vida podem também acabar por ditar numerosos casos que resvalam para vulnerabilidade, indigência e sofrimento, mas o pior pode ser a forma como, acrescido aos eventuais erros cometidos, desistamos da solidariedade, da atenção e institucionalmente da dignificação das pessoas enquanto vivas.

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