Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
O sangue é vital para a vida. Transporta o oxigénio pelo corpo, remove o gás carbónico, ajuda a adaptar-se às mudanças de temperatura e auxilia no combate a doenças.
Principal transportador de substâncias para os órgãos do corpo, o sangue funciona como parte natural da defesa do organismo. Também é responsável por enviar nutrientes dos alimentos que ingerimos para todas as células do corpo, garantindo o bom funcionamento dos órgãos.
Através do exame de sangue, é possível detectar doenças graves como a Hepatite C, o VIH, Colesterol, Tiroide, Diabetes e doenças renais.
Por isso, a doação de sangue é muito importante na salvação de vidas nos hospitais. Doar sangue chega a ser um acto de solidariedade e compromisso social. Entretanto, este compromisso parece não estar a se fazer sentir no país, se tivermos em conta o alerta feito, na semana passada, pela directora do Instituto Nacional de Sangue (INS), segundo o qual, a instituição estava com uma reserva suficiente para atender apenas uma semana às solicitações das unidades hospitalares do país.
Deodete Machado, que falava à Rádio Nacional de Angola (RNA), justificou a grande procura por sangue nas hemoterapias com o aumento das transfusões causadas por malária e anemia. Faz todo o sentido a justificação, se tivermos em conta que a malária é, tão-somente, a principal causa de morte no país.
Só de Janeiro até ao início de Dezembro do ano passado, tinham sido diagnosticados 12 milhões de casos de malária e, deste número, cerca de seis mil acabaram por morrer, de acordo com dados avançados pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, durante a 28ª Conferência sobre o Clima (COP28), decorrida no último mês de 2023, no Dubai.
A segunda maior causa de solicitações de sangue são os acidentes de viação que são, igualmente, o segundo maior motivo de mortes no país. O comandante-geral da Polícia Nacional, comissário-geral Arnaldo Carlos, informou, em Janeiro deste ano, que, em 2023, foram registados 14.424 acidentes de viação no país. Estes sinistros resultaram na morte de 3.121 pessoas e no ferimento de outras 17.902.
Isso é só um indicativo de como os hospitais são pressionados, sobretudo aos fins-de-semana, altura em que aumentam os casos de acidentes rodoviários. "Todo o sangue que recebemos dos dadores enviamos às unidades hospitalares que nos solicitam”, disse, à RNA, a principal gestora do INS, ao justificar a baixa de reservas.
E a baixa no stock tem a ver, em grande medida, com o facto de, no país, haver poucos dadores voluntários. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que pelo menos 1% da população de um país seja dador de sangue. Até Abril de 2019, existiam em Angola apenas 107 mil dadores, para uma população que está agora estimada em cerca de 34 milhões. Naquele ano, só Luanda necessitava de 260 unidades (balões) de sangue por dia, mas apenas eram colhidas 60, como revelou, na altura, a directora do INS.
Nas declarações que proferiu, na semana passada, à RNA, Deodete Machado sublinhou que a maior parte do sangue doado (83%) continua a ser de familiares de doentes internados e apenas 17% são de voluntários, cenário que contraria a recomendação da OMS de que a doação seja voluntária e correspondente a pelo menos 1% da população.
Há, por isso, a necessidade de se aumentar o número de dadores voluntários, se quisermos alterar o quadro e não estar a depender do sangue transfundido de familiares de doentes que, em alguns casos, conclui-se que infectados com esta ou aquela doença, sendo, por isso, descartado.
Para termos mais dadores voluntários, é necessário sensibilizar a população, de modo a mentalizá-la de que sem doação não haverá disponibilidade de sangue para todos. É preciso lembrar que hoje podemos não estar a precisar de sangue, mas amanhã, nós ou um nosso familiar podemos precisar. Daí o apelo no sentido de doarmos um pouco do nosso sangue para salvarmos vidas!
* Director Executivo-Adjunto
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