Opinião

Economia e Geopolítica –“até que a morte os separe” (2)

Rui Malaquias

Economista e Mestre em Finanças

Contudo, este foi o principal motivo para a primeira machada na União, com a saída do Reino Unido a 31 de Janeiro de 2020, cujo argumento principal (para além da emigração), é que Reino Unido era um dos maiores contribuintes para a união e os investimentos naquela ilha eram irrelevantes, na prática os ingleses sentiram que estavam a sustentar os países mais fracos da união. Em jeito de exemplo, em 2015, o Reino Unido contribuiu com 17,8 biliões de libras para a União Europeia, do qual apenas 4,4 biliões foram reinvestidos no próprio Reino Unido.

23/02/2024  Última atualização 07H00
Certamente que os cidadãos da Alemanha, França, Itália e Espanha também terão esse sentimento e já se fala em alguns destes países, na realização de referendos para ouvir o povo sobre a intenção de permanência na União. Do lado oposto, estão os países mais pequenos e dependentes que estão no estado "já que me comeu a carne, por favor coma também os ossos” pois, abdicaram das suas fábricas e habituaram-se a receber fundos europeus para subsidiar os seus pequenos grupinhos empresariais e investir em infraestruturas de base em suas economias.

Estes países têm plena consciência de que se a União se desfizer neste momento, estes serão os maiores prejudicados, pois cada pais voltará à sua moeda própria. Deverão começar o esforço de industrialização. Contudo até as fábricas voltarem a funcionar, aquelas economias vão passar as verdadeiras "passas do Algarve”.

Com uma moeda mais fraca, terão de importar tudo dos seus vizinhos, sem um bem procurado pelo resto do mundo, terão fracas reservas de moeda forte estrangeira. A inflação será companheira do dia-a-dia, a divida pública terá um crescimento exponencial, porque já não haverá fundos comunitários e nem o Banco Central Europeu para comprar a dívida pública destes países a preços combinados nos gabinetes e exigindo juros baixíssimos e surreais.

O parágrafo acima faz lembrar a nossa economia e quase todas economias africanas e muitas da américa latina, obrigadas a importar tudo do ocidente com moedas fracas e em desvalorização permanente, poucas reservas em moeda forte estrangeira, endividamento publico crescente, taxas de inflação de dois dígitos sendo algo normal, dificuldade em atração de investimento estrangeiro estável, por outras palavras, estaríamos a dizer a Portugal, Chipre, Eslovénia, Estónia, Lituânia e Letónia e outros países atrasados da União Europeia, "bem vindos ao nosso mundo”.

Situação semelhante está a acontecer em termos geopolíticos, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia em que existe a necessidade de mostrar um bloco ocidental (Estados Unidos + União Europeia) unido contra um "inimigo” comum.

Mas também aqui a União também está com pés de barro, pois a organização criada pelo bloco acima citado, a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, atravessa um período delicado, em que os EUA que já estavam desconfortáveis com o facto de serem praticamente os únicos a contribuir financeiramente para defesa militar dos seus aliados, sendo que o Presidente Barak Obama já tinha levantado a questão no seu último mandato.

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