Opinião

Economia e Geopolítica – “até que a morte os separe”

Rui Malaquias

Economista e Mestre em Finanças

Todas as análises, das menos avisadas às mais aperaltadas, são unânimes em afirmar que o caldeirão geopolítico mundial está em pura ebulição, apenas visto depois da Segunda Guerra Mundial, em que a guerra era mesmo fria, mas era fácil divisar os lados e as ideologias em conflito, os blocos eram transparentemente opostos e os políticos tinham as estratégias todas colocadas por cima da mesa, o combate era duro mas leal, os eleitores sabiam no que estavam a apostar/votar, era tudo mais fácil de analisar e mais rápido de prever.

22/02/2024  Última atualização 06H00
Hoje em dia é tudo mais obscuro, as agendas são secretas, os inimigos são de circunstância, as alianças são de plasticina e os amigos de sempre são os contendores do próximo capítulo da série.

Os blocos socialistas e capitalistas foram substituídos pelas disputas territoriais económicas e comerciais, pois os comunistas de outrora hoje são os primeiros a baixar impostos e baixar o custo da mão-de-obra do proletariado para atrair o investimento capitalista ocidental.

Por outro lado, as economias de mercados tradicionais estão mais viradas para o assistencialismo puro, priorizando governos socialistas e de esquerda radical, em que se procura taxar cada vez mais os grandes grupos empresariais, encostando-os cada vez mais a parede. Vemos ainda as economias capitalistas tradicionais a forçar a redistribuição dos rendimentos através de uma subida quase que exponencial dos salários do proletariado, permitindo que o Estado seja cada vez mais presente na economia, passando um claro atestado incompetência à mão invisível de Adam Smith.

A dita aliança ocidental está a definhar e a decomposição vem de dentro, pois aqueles comparsas (contra o resto do mundo) não se entendem, a União Europeia + Estados Unidos, já não comungam dos mesmos ideais e isto é na verdade a crónica de uma morte anunciada.

No caso da União Europeia, os países-membros são muito diferentes e andam a diferentes velocidades, países como Polónia, Grécia e Portugal e maioria dos membros da união são economicamente atrasados e totalmente dependentes dos mais fortes, são países com custos de produção mais elevados, o que os deixa vulneráveis em relação a países como Alemanha, França, Itália e Espanha, pois estes últimos, na produção de um mesmo produto, terão sempre custos mais baixos e por este motivo os seus produtos serão sempre mais baratos/apetecíveis do que os dos outros países da União.

Na prática, há fábricas (implicando os respectivos postos de trabalho) que nunca irão para os países mais atrasados da União, estes serão sempre mercados crónicos dos países mais avançados, para além disso, existem regras comunitárias que inibem ou limitam a produção de determinados bens em países menos competitivos, matando assim as livres iniciativas de mercado, condenando-os a uma dependência eterna.

Tais regras tornam-se ainda mais confusas e inaceitáveis quando a própria União Europeia, impõe cotas aos produtores europeus e prioriza a importação dos mesmos produtos de outros mercados mais eficientes de fora da União, sob pretexto de prover bens de consumo mais baratos para os povos europeus, em detrimento dos produtores nacionais que se vêm mais sufocados do que nunca. Daí termos vistos nas últimas semanas manifestações muito vigorosas de agricultores europeus fechando estradas, bloqueando entradas e saídas de países europeus, em protestos contra medidas de caris comunitário.

No mesmo sentido, mas com argumento oposto, a união parecer ter os dias contados, pois as regras obrigam que países que mais ganham com vantagens comparativas entre os países-membros, devem contribuir mais para a própria união, pois a própria União tem a missão de apoiar as economias atrasadas/pequenas com fundos comunitários para de certa forma compensar a castração dos seus sectores produtivos.

Neste contexto, temos visto uma mistura difusa entre regras de capitalismo selvagem, paternalismo e assistencialismo com consciência pesada à mistura, pois os países atrasados são obrigados a não investir em determinados sectores para não competir com os mais avançados, e depois, os mais avançados são obrigados a financiar os mais atrasados para manter o status quo.

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