Economia

Economistas prevêem inflação superior às projecções adoptadas pelo Governo

Waldina de Lassalete

Jornalista

Caso as variáveis do mercado se mantiverem, a inflação anual de 2024 pode exceder a previsão inscrita pelo Governo no Relatório de Fundamentação no OGE, de uma taxa de 15,3 por cento para o cômputo do ano, de acordo com opiniões obtidas pelo Jornal de Angola de economistas contactados para comentar os dados do Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) de Fevereiro, na quarta-feira divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

16/03/2024  Última atualização 11H06
Da esquerda para a direita, os economistas Pedro Kuassa, Daniel Tendo e Divava Ricardo © Fotografia por: DR
A folha de informação rápida do IPCN declara que, em Fevereiro, a inflação voltou a subir em Angola, pela décima vez consecutiva, fixando-se nos 24,07 por cento em termos homólogos, o valor mais alto em quase dois anos, e nos 2,58 por cento em termos mensais.

O economista  Pedro Kuassa considera ser "muito difícil falarmos em meta de inflação em Angola como um objectivo da política monetária, porque o país não usa o regime de metas de inflação, que consiste num arcabouço de regras que definem um intervalo de tolerância dentro do qual a taxa de inflação pode flutuar”.

Pedro Kuassa afirma ser  "pouco provável” que a inflação entre em trajectória descendente com a retirada de subsídios sobre a gasolina e o óleo diesel.

"Se pensarmos no equilíbrio das contas públicas, há, sim, a necessidade de diminuir o défice orçamental”, afirma Pedro Kuassa, ao pronunciar-se sobre a remoção dos subsídios à gasolina. Para mitigar os efeitos negativos da retirada de subsídios sobre os combustíveis, é importante compensar a medida com a ampliação das transferências de renda, disse.

Tardeli Maveza, outro economista, declarou que a retirada da subvenção à gasolina vai permitir estruturar a economia, tendo em conta que o dinheiro com que o Estado subvenciona o combustível pode ser canalizado para cobrir outras despesas no domínio da provisão de bens e serviços públicos.

O analista ligado ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais (CIS) Daniel Tendo atribuiu a inflação, em Angola, à "reduzida capacidade do mercado em oferecer bens e serviços que satisfaçam a procura” e ao facto de o país continuar "a ter uma economia extremamente dependente do petróleo” e desprovida "da capacidade de arrecadar divisas que permitam maior importação de produtos para abastecer o mercado interno”.

O sector não petrolífero, notou, "tem-se expandido, mas de forma tímida, não conseguindo complementar ou fazer a vez do sector petrolífero, que continua a ser o maior responsável pela entrada de divisas”.

Daniel Tendo prevê um agravamento do nível geral dos preços com a retirada da subvenção à gasolina para os taxistas e outras classes profissionais, aprovada pelo Governo na quinta-feira, 7, propondo, como medidas de mitigação, a aceleração dos programas de fomento da produção nacional.

O reforço do sector dos Transportes Públicos com meios para travar o aumento das tarifas ou a devolução do poder de compra por via de aumentos salariais, são outras medidas consideradas por Daniel Tendo.

Por sua vez, o economista Divava Ricardo estima que se deve esperar um aumento do custo de vida induzido pelo custo do transporte, incluindo as tarifas para passageiros e o frete: "Fica difícil fazer previsões razoáveis”, afirmou.

Para Divava Ricardo, mitigar os efeitos da remoção das subvenções pode implicar adiar determinadas medidas administrativas sobre o sector do Comércio, principalmente do informal, assim como reforçar as medidas para a gestão eficiente da Reserva Estratégica Alimentar.

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