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Exército baixa intensidade terrorista em Cabo Delgado

O Governo moçambicano anunciou que as mortes provocadas por ataques terroristas, em Cabo Delgado, diminuíram em 2023, para menos de uma centena, depois de mais de 250 vítimas por ano, entre 2019 e 2022, furto das operações especiais contra as actividades de grupos armados.

05/04/2024  Última atualização 06H10
Governo moçambicano perspectiva um aumento das operações especiais conjuntas das forças de defesa e segurança © Fotografia por: DR
Num Relatório da Avaliação Nacional dos Riscos de Financiamento do Terrorismo, a que a Lusa teve ontem acesso, consta que a "taxa de actos terroristas, em análise anual comparativa, foi 'média' para os anos de 2017 e 2018, 'alta' em 2019, 'muito alta' nos anos 2020 e 2021, 'alta' em 2022 e 'média' em 2023".

"No mesmo período a taxa de mortalidade, resultante de ataques indiscriminados à população em 2017 e 2018, foi 'média', entre 2019 a 2022 'muito alta', estando acima de 250 mortos por ano. Actualmente, a tendência é decrescente, tendo baixado para menos de 100 mortos em 2023, classificando-se como 'média'", lê-se no documento, com dados até 2023. No relatório refere-se que, no período de 2019 a 2020, registaram-se mais de uma centena de ataques em Cabo Delgado.

"Durante este período, os actos terroristas consubstanciam-se em assassinatos (decapitações), raptos, extorsão, exploração e escravização sexual, casamentos forçados, pilhagem de bens e produtos da população, bancos e dos agentes económicos, incêndios a casas, imposições de ideologia islâmica radical, intimidações e ameaças de morte, entre outras práticas", reza o relatório.

Acrescenta-se que os actos terroristas deixaram em Cabo Delgado, norte de Moçambique, "marcas de dor, danos mortais, responsáveis por cerca de 900 mil deslocados internos, destruição de instituições públicas e privadas, paralisação de actividades comerciais e prestação de serviços básicos, e recuo do investimento estrangeiro no país".

Na área empresarial, ci-tando a Federação Nacional das Associações Agrárias de Moçambique, refere-se que "mais de 400 empresas foram afectadas e cerca de 56 mil postos de trabalho foram perdidos" localmente. "O distrito de Mocímboa da Praia figura como o mais afectado, com cerca de 40% de empresas, 23% dos postos de trabalho perdidos devido aos ataques terroristas", aponta-se no documento.

O relatório refere ainda que "o nível da ameaça da actividade terrorista" em Moçambique foi, até 2021, "muito elevado", dada a acção no Norte do país do grupo terrorista Ahlu Sunnah Wal Jamaah (ASWJ), também conhecido internacionalmente como ISIS-Moçambique e localmente designado por Al-Shabab, o qual "tinha potencial de se expandir para outras regiões do território com influência nos países vizinhos".

Movimentações de grupos armados em Macomia

A população do distrito de Macomia, centro da província de Cabo Delgado, denunciou, ontem, a alegada movimentação de grupos terroristas nas zonas de produção agrícola. "Passaram pelas matas de Nambini, eram muitos terroristas, em direcção a Quissanga", disse à Lusa uma fonte da comunidade local, a partir da sede distrital de Macomia. A mesma fonte referiu que a passagem dos rebeldes, a quase 30 quilómetros da sede distrital, precipitou a fuga de alguns camponeses: "Há pessoas que fugiram de lá de Nambini, porque, apesar de não terem provocado mortes, todo o cuidado, quando se fala de terroristas, é pouco".

Outra fonte disse não ser a primeira vez que os terroristas passam pelas matas de Nambini a caminho de Quissanga, facto que tem criado alarido entre os produtores. "Sempre usam aquela via em direcção a Quissanga, não estamos à vontade", lamentou a fonte a partir de Macomia.

Bispo repudia divulgação de imagens de decapitados

O bispo de Pemba, capital de Cabo Delgado, repudiou a difusão de vídeos com pessoas decapitadas assassinadas por grupos armados, apelando para a não disseminação de imagens de violência.

"Fico muito admirado quando vejo pessoas a encaminharem vídeos com imagens horríveis de pessoas decapitadas", disse António Juliasse, durante a vigília pascal. "Não devemos pregar a desgraça", exortou. Aquele líder religioso também criticou a disseminação de vídeos de vítimas de acidentes de viação, questionado se esta prática significa que as pessoas perderam a sensibilidade.

O bispo de Pemba, António Juliasse, pediu à sociedade moçambicana uma mobilização a favor da construção da paz e da solidariedade. A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Depois de uma ligeira acalmia em 2023, estes ataques multiplicaram-se nas últimas semanas, criando cerca de 100 mil deslocados só em Fevereiro, além de um rasto de destruição, morte e famílias desencontradas.

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