Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
Eles não leem. Esta entidade na terceira pessoa do plural são os alunos, sobretudo adolescentes, e a afirmação constitui uma lamentação que ecoa pela sala de professores de dezenas de escolas.
Se a educação implica, e muito, o exemplo, no contexto deste persistente desabafo que se repete em tantas escolas, talvez não seja descabido perguntar se o verbo ler se aplica, com a devida frequência, ao desejo leitor dos próprios professores. Eu sei: existe a falta de tempo, as pilhas de testes a corrigir, a burocracia que tantas vezes substitui a possibilidade de conhecer os alunos reais, as viagens entre a casa a escola com quilómetros a mais. Mas ainda assim, permitam-me a provocação: E os professores leem?
Os obstáculos acima mencionados são reais, é preciso reconhecê-lo. No entanto, no contexto educativo, o amor, o exemplo e o entusiasmo são meio caminho andado para se tocar na alma dos alunos.
O entusiasmo, como todas as emoções, é contagiante e se eu tiver amor e entusiasmo pelos livros que leio e partilhar esse entusiasmo com os meus alunos, poderei arrastá-los um pouco mais para a leitura. Transformar os grandes clássicos da literatura portuguesa em histórias antes de os analisar, assinalar os seus aspectos divertidos com genuíno interesse, trazer sempre um livro e falar dele com prazer são atitudes que talvez ajudem a criar leitores.
Eu sei! Existe o programa a cumprir e os exames que os alunos têm de passar. Mas, a literatura que se ensina na escola não pode ser um instrumento de tortura pedagógica que afasta os jovens da literatura e o ensino da literatura não se pode reduzir à memorização das respostas certas às perguntas do professor sobre a obra a estudar, às perguntas dos testes, às perguntas dos exames.
Cativar alunos para a leitura, criar leitores numa sociedade de informação rápida e cada vez menos reflectida é fundamental para criar cidadãos.
A literatura, segundo Chomsky, possibilita uma introspecção muito mais profunda às pessoas do que qualquer outra ciência o pode fazer. A literatura, como se sabe, não salva o mundo. Não foi por se ter escrito a Ilíada ou a Guerra e Paz que deixaram de existir guerras no mundo (basta ver as notícias!).
Nem deixaram de existir grandes desigualdades sociais depois da escrita de Oliver Twist por Charles Dickens ou de Germinal por Emílio Zola. No entanto, a literatura, seja a ficção, seja a poesia, assenta num jogo interactivo entre a razão e a emoção e, nessa medida, facilita a compreensão dos sentimentos e contradições humanas, ajudando assim a auto compreensão e o desenvolvimento da empatia pelo outro e pelo diferente.
Para a progressão na carreira os professores têm de frequentar cursos, cujo impacto nas práticas educativas raramente é avaliado. Por que não substituir alguns desses cursos por clubes de leitura com leitura e discussão de livros de ficção e de grandes mestres de pedagogia?
É uma ideia que sei que nunca sairá das estreitas páginas desta crónica e, no entanto, talvez pudesse ajudar a formar professores leitores que são a base para a criação de jovens leitores.
Ana Cristina Silva-Professora do Ispa – Instituto Universitário e escritora
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