Opinião

Francofonia 2024: uma ambição de paz, partilha e cultura

Sophie Aubert *

* Embaixadora de França em Angola

Neste Março de 2024, nós, francófonos, celebramos o Mês da Francofonia. Sinto-me muito honrada, como embaixadora de França em Angola e secretária permanente do nosso Grupo dos embaixadores francófonos em Angola, por ter esta oportunidade de partilhar as ambições da Francofonia aqui em Angola, o mais francófono dos países lusófonos.

20/03/2024  Última atualização 09H05

Para nós, Franceses, 2024 será um ano muito especial para a Francofonia.

Pela primeira vez em 33 anos, a França acolherá a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Francofonia, que se realiza de dois em dois anos nos países-membros da Organização Internacional da Francofonia (OIF), desde 1986. Trata-se de um acontecimento importante para nós, pois tanto Paris como o Château de Villers-Cotterêts acolherão este grande evento no início de Outubro de 2024.

Villers-Cotterêts situa-se perto de Paris. Nesta cidade, em 1539, o Rei Francisco I assinou um decreto tornando o francês a língua dos Franceses, impondo-o em todos os actos jurídicos. Esta decisão impôs, gradualmente o uso do francês em todas as aldeias de França e contribuiu para a unificação da França.

A 30 de Outubro de 2023, o Presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, inaugurou a nova "Cité Internationale de la langue Française” (Cidade Internacional da Língua Francesa), situada no Château de Villers-Cotterêts. Esta cidade tornou-se o berço do nosso património cultural e linguístico comum, a língua francesa, um bem comum partilhado por todos os francófonos e pela Francofonia, composta por 88 países, incluindo 54 membros de pleno direito, em todos os continentes. O Dia da Francofonia, 20 de Março, e todo o mês são, neste ano, uma oportunidade para anunciarmos este grande evento francófono, a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da OIF, que temos a honra de acolher em Outubro.

Enquanto francófonos, defendemos uma Francofonia aberta, um espaço de diálogo inclusivo, de respeito e de parceria, que valoriza a diversidade cultural. Este desejo de partilha e inclusão é um verdadeiro desafio político num mundo internacional altamente fragmentado, com tantas guerras chocantes, onde as primeiras vítimas são sempre os inocentes. A Francofonia é uma convicção, uma determinação em defender a paz e a segurança em todo o mundo. Não se trata apenas de palavras, mas de uma vontade forte e de uma convicção.

No domínio da cultura, a nossa língua comum, o francês, é uma parte importante da nossa identidade. Queremos dar um novo ímpeto a esta identidade cultural e linguística, encorajando uma abordagem dinâmica, atractiva e virada para o futuro da forma como damos vida ao nosso património cultural e linguístico comum.

Apoiamos a criatividade, o empreendedorismo cultural, as novas metodologias de aprendizagem, a colaboração entre línguas e o multilinguismo. A nossa língua comum permite-nos encontrar-nos, conhecer-nos e compreender-nos, trabalhar melhor em conjunto e construir novos laços de solidariedade.

A nossa língua e cultura partilhadas são factores importantes para a abertura de um vasto leque de oportunidades. De facto, quanto mais línguas tivermos, mais bem equipados estaremos para nos projectar no mundo, que é um mundo híper-conectado.

Por exemplo, a partilha da língua francesa é um trunfo para as comunidades económicas: falar a mesma língua e partilhar a mesma cultura facilita a compreensão e a realização de negócios.

Nós, francófonos, também estamos convencidos de que a revolução em curso com as tecnologias inovadoras, como a inteligência artificial, representa uma nova área de oportunidade para a língua francesa e para o multilinguismo. As línguas são um instrumento poderoso para a adopção de novas tecnologias, e devemos mobilizar-nos para as utilizar para reforçar a nossa posição no domínio da inovação.

No seio da Francofonia, trabalhamos todos em conjunto para atingir estes grandes objectivos, que visam fazer da Francofonia um espaço privilegiado de partilha, de paz e de progresso político, cultural, económico e de inovação.

Para apoiar estes objectivos, na Cimeira da Francofonia de Villers-Cotterêts, no mês de Outubro, sob a direcção da Secretária-Geral da OIF, Louise MUSHIKIWABO, os francófonos poderão participar numa iniciativa ambiciosa denominada "Le Festival de la Francophonie” (O Festival da Francofonia), cujo tema principal é "refazer o mundo”. Será uma oportunidade para todos os francófonos reflectirem em conjunto sobre o mundo de amanhã.

Haverá uma vasta gama de actividades, com os cidadãos francófonos a mostrarem o seu país e a sua cultura nacional, a sua criatividade, a sua inovação e a sua ambição para o futuro.

Por exemplo, haverá uma feira de inovação francesa, "Francotech”, onde os jovens francófonos poderão mostrar a sua capacidade de inovação.

O Festival da Francofonia será uma oportunidade única para descobrir todas as culturas e sociedades do mundo francófono, das quais a maior parte são multilíngues.

De facto, o multilinguismo é uma realidade em muitos países da Francofonia, e estamos todos convencidos de que a Francofonia prospera porque é aberta e promove o multilinguismo. O mundo é plural, multipolar e multilateral, e o multilinguismo é o ADN da Francofonia.

Este ano será também uma oportunidade para ligar o mundo francófono aos outros grandes eventos que se realizam em França este ano, em particular os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, com a passagem da tocha olímpica por Villers-Cotterêts.

Aqui em Angola, com pelo menos 4 milhões de francófonos, ou seja, cerca de 12% da população, a Francofonia está representada por vinte embaixadas de países-membros de pleno direito da Francofonia, trinta, se considerarmos os outros estatutos. O nosso grupo elegeu, recentemente, a sua nova mesa, composta pelo presidente, o embaixador da Costa do Marfim, pelo vice-presidente, o embaixador da Suíça, e pela embaixadora de França, a secretária permanente do Grupo dos embaixadores francófonos. Em conjunto, com todos os membros deste grupo, celebramos a Francofonia, com todos os angolanos que o desejam, e que são calorosamente convidados para os nossos eventos.

Lançámos o nosso mês da Francofonia com um grande concerto da Sara Saka e Banda, no dia 14 de Março. Participamos numa manhã extraordinária no 10º festival do Bureau d’études de la langue française, o BELFA. Foi uma oportunidade para viver a Francofonia e a língua francesa com 160 alunos de 18 escolas francófonas de Luanda, que vieram celebrar a língua francesa.

Descobri a vivacidade e a qualidade dos alunos de todas estas escolas. Pude constatar a motivação dos seus professores, do BELFA e do Ministério da Educação na implementação do nosso programa conjunto, SEPIA, que apoia a generalização do ensino da língua francesa desde os primeiros anos de escolaridade, nas aulas do quinto e sexto níveis). Ao mesmo tempo que o festival do BELFA, a Aliança Francesa organizou uma série de actividades em francês para crianças pequenas, introduzindo-as na língua francesa e nas nossas culturas francófonas.

A celebração da Francofonia continuará, por exemplo, com a Universidade Agostinho Neto, no dia 20 de Março, onde participaremos numa conferência muito rica sobre a Francofonia e a língua francesa em Angola.

No final do mês, encerraremos o concurso "Petits champions de la lecture” (Pequenos campeões da leitura), na Aliança Francesa; uma festa do cinema francófono, de 15 a 31 de Março, no Cinemax Fortaleza, permite descobrir a riqueza da nossa cultura francófona, e o Shopping Fortaleza acolhe, igualmente, uma exposição sobre a história da banda desenhada em África, Kubuni.

Finalmente, como todos os anos, os nossos países francófonos terão a oportunidade de promover a sua gastronomia na "Soirée des Saveurs” (Noite dos Sabores), no Palácio de Ferro, no dia 22 de Março.

Todos estes eventos são uma óptima oportunidade para partilhar a língua francesa e o multilinguismo. Estamos muito felizes com o entusiasmo dos nossos parceiros angolanos e gostaríamos de agradecer Angola pelo seu apoio a todas as nossas iniciativas.

 

* Embaixadora de França em Angola

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