Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
Há algumas semanas, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, num assinalável gesto de coragem, levantou a voz contra a matança de palestinos em Gaza, a ocorrer, mais uma vez (sublinhe-se o “mais uma vez”, pois a situação já vem desde 1948), às mãos do estado sionista de Israel.
O governo ultradireitista e teocrático de Tel Avive reagiu como o costumam fazer os fascistas, mas o Brasil não se intimidou e, diante das ameaças de Netanhyau, ordenou ao seu embaixador que voltasse para casa. As potências ocidentais, que até agora têm protegido Israel, o que as faz cúmplices da matança em curso, ficaram caladas, não se arriscando a criticar o estadista brasileiro. A maioria dos governos e dos cidadãos do mundo inteiro apoiou expressamente as declarações do Presidente Lula.
Estranhamente (ou talvez não), no Brasil gerou-se um enorme sururu, desencadeado pela grande imprensa e pelas forças bolsonaristas, apoiadas por certos intelectuais conservadores e, até, alguns alegados judeus "progressistas”, que se lançaram furiosamente numa cruzada contra Lula, acusando-o, no mínimo, de ter cometido uma gafe "inadmissível”, ao, supostamente, ter comparado os acontecimentos em Gaza com o holocausto dos judeus na II Guerra Mundial. Todos eles, em uníssono, exigiram ao Presidente brasileiro que, pelo menos, pedisse desculpas aos judeus, recorrendo, por conseguinte, à grande chantagem política usada presentemente por Israel e os seus aliados e protetores: confundir anti-sionismo com anti-judaísmo.
Essa campanha, de contornos formidáveis e que prossegue até agora, está baseada, entretanto, numa mentira deslavada: na sua declaração sobre os acontecimentos em Gaza, Lula não se referiu ao holocausto; afirmou, sim, que o que está a acontecer é um genocídio e que, portanto, a prática de Israel é comparável ao que os nazistas fizeram aos judeus há cerca de oitenta anos.
Vou dizê-lo: que a grande imprensa brasileira, conhecida pelo seu "vira-latismo”, tenha esse posicionamento, não é de estranhar ("vira-latismo” é uma expressão brasileira que vem de "vira-lata”, ou seja, cão rafeiro, e que, genericamente, significa complexo de inferioridade, sobretudo em relação às grandes potências euro-ocidentais; nós podemos "traduzi-la” por "cachiquismo”, de "cachico”, serviçal, subalterno, criado).
Quanto aos judeus "progressistas” que também acham que Lula deve uma desculpa aos judeus, pertencem certamente, com todo o respeito, àquele grupo de auto-proclamados "esquerdistas” e "sionistas liberais” mencionados por Ronnie Barkan, judeu-israelita, activista de direitos humanos e antissionista, que os caracteriza com as seguintes palavras: - "Eles falam habitualmente em paz e em direitos humanos, mas apenas para adoçar o seu racismo e supremacismo”. Barkan é perentório: - "Não existe esquerda em Israel, nem nunca existiu”.
Aliás, diante da carnificina que o Estado de Israel está a cometer em Gaza, não apenas com o apoio político-diplomático do Ocidente, mas com armamento que o mesmo lhe continua a fornecer, discutir se essa carnificina é genocídio ou não, se podemos compará-la ao holocausto dos judeus ou não, parece-me, francamente, uma estultice criminosa.
Precisamente por isso, é preciso ir mais longe: a verdade é que não há diferença nenhuma entre os conceitos de "genocídio” e "holocausto”.
Quem o explica é o também brasileiro Ordep Serra, antropólogo, estudioso das religiões e helenista, membro da Academia de Letras da Bahia. Segundo ele, do ponto de vista linguístico, "holocausto” significa "totalmente queimado” (do grego "holos”=todo e "kostos”=queimado); essa expressão era usada para diferenciar os sacrifícios religiosos antigos, praticados igualmente pelos judeus, na maioria dos quais os animais eram imolados e depois comidos, mas, quando não eram comidos e, sim, totalmente queimados, a palavra para representar esse acto era "holocausto”, isto é, "totalmente queimado”.
Ou seja, explica Serra, "holocausto é uma metáfora para genocídio, extermínio”. Alguém tem dúvidas de que é isso o que está a acontecer neste momento com os palestinos em Gaza e não só, tal como aconteceu com os judeus na II Guerra Mundial e também com outros povos, em diferentes períodos da História (como, só para dar um exemplo que nos é próximo, os hereros, aqui ao lado, na Namíbia)?
A maka é que Israel fez um "branding” da palavra, de tal modo que ela se converteu em sinónimo do extermínio dos judeus, deixando de fora os restantes povos. Mais do que isso: a mesma passou a ser usada para fazer chantagem sobre toda a humanidade, a fim de relativizar e ignorar o extermínio dos palestinos cometido, actualmente com cobertura televisiva, pelo Estado teocrático, fascista e segregacionista de Israel.
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Jornalista e escritor
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