Opinião

O Eco das Crenças Invisíveis

Mário Ndala

Num mundo onde os olhos vêem apenas a superfície, somos guiados por ecos invisíveis que ressoam das profundezas do nosso ser. Estas crenças subconscientes, enraizadas nos recantos mais ocultos da mente, são como cordas que dirigem os nossos passos, os nossos juízos e até mesmo os nossos sonhos.

28/04/2024  Última atualização 08H11
Numa tarde qualquer, sentado à beira de uma calçada movimentada, um homem observa o vai-e-vém das pessoas, cada uma carregando as suas próprias histórias, as suas próprias crenças. Ele reflecte sobre como essas crenças moldam a sociedade, como definem o que é aceite e o que é rejeitado, o que é normal e o que é estranho. Por exemplo, numa cultura onde a pontualidade é uma virtude, o atraso é visto não apenas como um incómodo, mas quase como um acto de desrespeito. Mas noutra parte do mundo, o tempo flui de maneira diferente, e o que é urgente aqui, pode ser dispensável ali.

Essa variação nas percepções revela mais do que simples diferenças culturais; revela a profundidade das crenças que nos governam sem que percebamos. Como marionetas a dançar sob a batuta invisível dessas verdades ocultas, reagimos a conflitos, celebramos sucessos e construímos as nossas relações baseados nesses princípios subterrâneos.

O homem pergunta-se: até que ponto somos realmente livres? Livres para pensar, para amar, para discordar? Se as nossas crenças mais fundamentais foram plantadas em nós desde a infância, por mãos alheias e pensamentos de outra época, possuímos realmente autonomia sobre as nossas escolhas?

A reflexão das crenças invisíveis não é apenas sobre o que elas fazem connosco, mas sobre como podemos, conscientemente, reflectir e escolher quais delas queremos nutrir e quais devemos deixar para trás. Afinal, a evolução social e pessoal passa pelo crivo da introspecção, pelo exame minucioso do que acreditamos ser verdade.

O homem levanta-se, um pouco mais ciente das cordas que o amarram. Com um suspiro, ele decide que é hora de começar a cortar algumas dessas cordas, um processo lento e, por vezes, doloroso. Mas necessário, se ele deseja realmente ver e viver num mundo onde não apenas as aparências são reconhecidas, mas também a essência de cada ser.

Assim, enquanto o sol se põe, ele caminha de volta para casa, cada passo um acto de rebeldia contra as crenças que já não servem, cada pensamento um eco do novo que ele deseja construir. É uma jornada longa e solitária, mas vital. Porque no fundo, todos somos tanto arquitectos quanto prisioneiros das nossas próprias crenças.

26/4/2024

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