Opinião

O Tempo do Mercado de Capitais (Parte I)

Rui Malaquias

Economista e Mestre em Finanças

De facto ainda não chegou o tempo do mercado de capitais, não obstante estarem a acontecer eventos que simbolizam algum dinamismo do mercado e propiciem a percepção de alguma “transacionabilidade”contudo, para quem de forma desapaixonada e com algum conhecimento de causa, claramente percebemos que não, ainda não temos um mercado de capitais à nossa dimensão, pois não nos devemos esquecer que o mercado de capitais, de facto nasceu em Angola em 2006 com a aprovação dos estatutos da Comissão do Mercado de Capitais (CMC).

14/03/2024  Última atualização 06H15
Ainda não estamos no tempo do mercado de capitais porque em 2012 e por opção nossa, ou da CMC, preferiu-se seguir por um atalho cheio de espinhos, quando foi decidido usar o mercado de capitais para financiar o Estado ao invés de financiar as empresas. Na praticadesistimos das empresas, desistimos de preparar as empresas para quota-las em bolsa e financiar o sector produtivo que cria empregos e agrega riqueza.

Quando se optou por um mercado de capitais para financiar o Estado, quando este de facto não precisava deste fórum porque já o fazia via emissão dos títulos de divida publica pelo Banco Nacional de Angola através dos  bancos comerciais, estávamos a condenar o mercado de capitais a estagnação profunda, pois o Estado teria de se endividar permanentemente para alimentar o mercado, e isto era incomportável porque o Estado tem o seu plano endividamento próprio, tal facto condenou ao falhanço do mercado de bolsa, dai ter-se o mercado que se tem hoje.

Na pratica, relegamos automaticamente o verdadeiro trabalho de mercado de capitais, que é de preparar as empresas e os empresários para lidar com a realidade de um mercado novo, com custos de financiamento mais baixos do que a Banca. Esta foi a realidade brasileira, foi estado brasileiro, pela mão do seu orgão de supervisão Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), quem fomentou e carregou pelo colo os pequenos empresários para entrar em bolsa, e hoje aqueles que eram pequenos, são grandes empregadores e exportadores.

Os mercados de capitais na sua génese foram criados para financiar empresas, os mercados de capitais são uma via alternativa ao financiamento bancário ou seja, é o principal concorrente do sistema bancário, portanto é a verdadeira afirmação das economias de mercado, todo pais que se queira de mercado, tem que ter bolsa de valores para as empresas, as bolsas são a principal expressão dos capitalismos em que o Estado é relegado para a função de supervisão e regulação.O mercado de capitais assenta em três pilares, o primeiro é a supervisão que é feita pelo Estado através da CMC, a intermediação que é feita pelas corretoras e distribuidoras e o terceiro é a negociação que é feita na bolsa de valores mobiliários.

Os dois primeiros já existem de facto mas é a negociação ou a bolsa que é a jóia da coroa do mercado de capitais e das economias de mercado. E é aqui que reside o nosso problema, nunca fomos capazes de criar mercado para financiar as empresas e criar uma montra de ativos para as famílias e as empresas investirem as suas poupanças.

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