Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
Todos os países da nossa sub-região precisam de dar passos mais expressivos em termos de integração. Angola está numa passada, ainda mais lenta, com contínuos receios. Entretanto, precisamos todos de perceber os benefícios de caminhar, juntos do que isoladamente. O exemplo da União Europeia é o grande paradigma da Teoria de Integração Económica e Comercio Internacional. É o exemplo acabado e inspirador.
No tocante ao continente africano, eu sou muito mais adepto e defensor da integração sub-regional do que ao nível continental, pois colocam-se desafios de difícil resolução quando olhamos para a dimensão de todos os países, padrões diferentes, elementos culturais, linguísticos, religiosos, modelos de desenvolvimento económico, social e político que tornam difíceis avançar no curto, médio ou até mesmo longo prazos.
Julgo que, em termos continentais, possamos definir as balizas, mas deixar a sua concretização de facto ao nível sub-regional.
Por exemplo, a África do Sul, com todo o seu potencial, tem estado a viver, há alguns anos, o desafio do racionamento de energia. Em algumas cidades, a situação é deveras preocupante e podemos imaginar o impacto dessa situação ao nível da produção agrícola e industrial. É um retrocesso muito sério sobre o qual vale a pena reflectir em termos de políticas públicas internas ao nível da África do Sul, mas também sobre as potencialidades da integração dos sistemas energéticos dos nossos países para além dos avanços que podemos tirar em termos de mercado de produção e distribuição de energia.
A principal empresa de electricidade do país é a estatal Eskom, que vive sérias crises financeiras e de gestão. O problema ganhou expressão em 2007, ainda era Presidente Thabo Mbeki e a situação tem vindo a agudizar-se com os sucessivos apagões e a dívida da empresa que compromete as Finanças Públicas, ou seja, cerca de 52 mil milhões de dólares. A rede de distribuição da energia é muito precária e o acesso é muito difícil em várias regiões do país. Estima-se que cerca de 40% de toda a energia gerada é consumida por 30 grandes empresas mineradoras e metalúrgicas.
Do ponto de vista ambiental, a produção de electricidade no país tem efeitos muito danosos, uma vez que a sua principal fonte é o carvão. A África do Sul é um dos casos muito expressivos sobre os desafios da transformação energética vis-à-vis os desafios de desenvolvimento, principalmente em termos humanos e sociais. Ainda assim, a energia eólica tem vindo a crescer de forma expressiva, mesmo que não atenda às necessidades, cada vez maiores, de energia.
Na actualidade, países como Angola têm níveis aceitáveis de produção (com excedentes) embora se registem, ainda, enormes desafios em termos de distribuição, ou como quem diz, no final da cadeia, o que conta mesmo é o acesso da população ao serviço. E aqui, infelizmente, ainda temos desafios substantivos pois os nossos níveis de electrificação ainda estão abaixo do desejável.
Se os sistemas de energia da região estiverem suficientemente integrados, os efeitos de racionamento seriam menos sentidos em diferentes regiões da África do Sul, pois o seu défice interno seria coberto com as potencialidades dos demais países, nesse caso particular de Angola.
No fundo, ao não avançarmos em termos plenos com a integração ao nível da SADC, em diferentes domínios, nesse caso particular dos sistemas de energia, o nosso país está a perder muito dinheiro. Pois, estamos a perder uma via de entrada de divisas também para o país, o que muita falta tem vindo a fazer.
Face aos níveis de industrialização da África do Sul e dos avanços da sua economia como um todo, muito diversificada, não tenhamos ilusões sobre o quanto o que temos a oferecer em termos de energia é muito pouco para as suas necessidades. Mas o que subsiste aqui é o princípio.
Por outro lado, e o caso da África do Sul para mim é particular, entendo que não estamos a saber tirar proveito das oportunidades de negócio e parcerias económicas e empresariais da região se considerarmos a nossa agenda de diversificação económica, para além de todo o know-how que podemos capitalizar em nosso benefício, no lugar de estarmos, constantemente, ligados aos modelos e mercados europeus, na maioria dos casos, desfasados da nossa realidade. Os receios ou os traumas de uma pretensa liderança económica e política devem dar lugar ao pragmatismo e realismo em termos de cooperação económica que pode, também, funcionar como um catalisador do nosso próprio desenvolvimento. Nós temos vantagens comparativas e precisamos de primeiro perceber e em segundo lugar tirar delas máxima vantagem.
É curioso que os sul-africanos celebram muito o Ubuntu. Não sem fundamento, se percebermos o impacto ainda, hoje, do Apartheid. Para mim, associados ao Ubuntu estão os princípios da reciprocidade e da solidariedade, o que é fundamental nas nossas sociedades, no sentido de percebermos o valor do colectivismo contra o individualismo (não confundir com a individualidade). A ideia de que juntos somos mais fortes para vencermos os desafios que nos são comuns e, nesse quesito, por exemplo, a questão do desemprego jovem encontra-se em níveis muito equiparados, hoje, em Angola como na África do Sul, elemento perigoso para a estabilidade política e social.
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