Opinião

Os quatro dias da NewSpace Africa Conference na “órbita” angolana

Xavier António

Jornalista

O Centro de Convenções de Talatona, em Luanda, foi palco da III edição da Conferência Espacial Africana-2024, também conhecida na sigla em inglês (NewSpace Africa Conference), que decorreu de 2 a 5 do corrente mês, marcada de intensas e valiosas abordagens sobre os melhores caminhos para o desenvolvimento do mercado espacial africano.

08/04/2024  Última atualização 07H20

As mais recentes tendências e actualizações no mercado espacial estiveram, igualmente, em análise no evento, que decorreu sob o lema: "O papel do espaço na redução do fosso da pobreza em África”, com foco no potencial transformador das iniciativas espaciais e na abordagem das disparidades sócio-económicas no continente.

A conferência, que aconteceu pela primeira vez num país da África Austral, juntou num único espaço decisores de vários Governos africanos, agências espaciais, líderes da indústria e 28 expositores, com realce para a NASA, a ESA, Airbus e a chinesa CAST.

Por isso, a  NewSpace Africa Conference é considerada a principal porta do negócio espacial a nível do continente africano e desta vez, em Luanda, num esforço conjunto entre a "Space in Africa”, a Comissão da União Africana e o Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN), tutelado pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS). Entretanto, há mais de ano que Angola colocou com sucesso em órbita o Angosat-2, pelo foguete "Proton-M”, a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Actualmente, o satélite fornece serviços de comunicações aos principais operadores de telecomunicações do continente africano e contribui para minimizar a exclusão digital.

Uma nota de realce é o facto do Angosat-2 estar a ser gerido e coordenado a partir do Centro de Missão e Controlo, em Luanda, por quadros nacionais formados nas melhores universidades do mundo, facto que a todos deve orgulhar.

A par disso, Angola está, igualmente, a utilizar activamente diferentes aplicações de detecção remota integradas como a inteligência artificial, a fim de apoiar sectores como Educação, Saúde, Agricultura, Construção e Petróleo, Gás e Minas, só para citar alguns exemplos.

Outro ganho visível fruto do Angosat-2 é o Projecto "Conecta Angola”, iniciativa de âmbito social que tem permitido levar conectividade em rede para as regiões mais recônditas do país, que no passado não tinham qualquer rede de comunicação.

Conforme dados revelados, o número de beneficiários subiu para mais de 30 mil. A iniciativa está, também, disponível nas comunas do Belo Horizonte, Canzar, Sombo-Sul, Jamba, Cueia, Jamba Luiana, Diríco e Licua, no Cuando Cubango, além das localidades do Bié, Lunda-Norte e Lunda-Sul, além potenciar as startups, micro, pequenas e médias empresas fazendo uso do sinal fornecido pelo Angosat-2.   

Por essa razão, a importância de se organizar um evento desta magnitude na capital angolana mede-se, fundamentalmente, pelo facto de que não basta apenas colocar um satélite em órbita, mas os passos subsequentes para a sua operacionalização, comercialização dos serviços e o impacto directo na vida das populações ditam o sucesso e a importância deste, assim como justifica o investimento aplicado pelo Estado e dizermos: valeu apenas. 

Durante o evento, os participantes defenderam que a prioridade do programa espacial africano deve estar focada no reforço da capacidade humana, sobretudo jovens, na oferta de serviços e na criação de infra-estruturas de apoio. Fica evidente que essas preocupações devem constituir o ponto de partida para o sucesso do programa espacial em África. Angola, ao acolher este evento de grande magnitude demonstra, sobretudo, a vontade da troca de experiências, partilha de informações de dados, bem como caminhar com os demais países da região africana e do mundo para impulsionar o progresso em toda a região e fazer parte das principais agendas mundiais espaciais.

É por estes e outros factos, que a terceira edição da Conferência Espacial Africana/2024, que girou durante quatro dias na "órbita" angolana, cumpriu com a nobre missão e projecta a imagem do país.

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