Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
Imagine uma terra sem árvores, onde hotéis luxuosos exibem cadeiras feitas de madeiras exóticas tiradas de África e processadas em outros lugares.
Ao caminhar por ruas movimentadas alinhadas com lojas de de venda de ouro e diamantes, não se pode deixar de sentir um senso de contradição. Apesar de não produzir metais preciosos ou pedras preciosas, essas ruas atraem os ricos, até mesmo aqueles da própria África, que admiram os próprios diamantes que foram extraídos do seu próprio continente em circunstâncias menos favoráveis.
Como africano, essas disparidades afectam-me de perto. É impossível não comparar a opulência no exterior com as lutas à volta de África: infra-estruturas em ruínas, crianças a quem são negadas educação e pacientes a morrer por falta de cuidados básicos de saúde.
A visão de bocas famintas numa terra de solos férteis e a dependência de água purificada enviada de longe enquanto fontes naturais não são aproveitadas, enchem-me de tristeza profunda pelo meu continente.
A exploração histórica de África pelas potências europeias para seus próprios ganhos, e a discrepância contínua entre a riqueza do continente e a exploração que ele sofre, são injustiças flagrantes que não podem ser ignoradas.
No entanto, apesar dessa realidade sombria, é crucial olharmos para o futuro com esperança e determinação. Os africanos devem encarar a verdade: nossa riqueza é explorada e vendida de volta para nós, mas temos o poder de mudar essa narrativa.
A educação é a chave. Através de tecnologias inovadoras e iniciativas educacionais, podemos capacitar as nossas comunidades, liberar o nosso potencial e romper o ciclo de exploração.
A África está num momento crucial, onde a revolução digital traz oportunidades sem precedentes de crescimento e desenvolvimento. Através do aproveitamento da tecnologia para a educação, agricultura, infra-estruturas e turismo, podemos impulsionar o continente para uma nova era de prosperidade e sustentabilidade.
Abraçando uma cultura de organização, inovação e união, os africanos podem superar estereótipos internalizados, elevar o continente e se inspirar nas melhores práticas globais para enfrentar desafios de longa data.
O mundo muitas vezes tem visões distorcidas dos africanos, alimentadas por estereótipos prejudiciais que são projectados para justificar a exploração. Quando os africanos são vistos como incapazes de organização, inovação ou adaptação, torna-se mais fácil saquear os seus recursos.
Também persiste a imagem da África como um lugar de sofrimento perpétuo que precisa ser salvo. Todos esses são estereótipos, e a realidade é bem diferente.
Vemos jovens africanos arriscando as suas vidas para atravessar o Mediterrâneo, mas eles não se tornam um fardo para a Europa, como os extremistas afirmam. Eles trabalham duro, começando em empregos mal remunerados, mas a sua determinação e disciplina os impulsionam para o sucesso. Pessoas de todo o mundo buscam melhores oportunidades em todo o globo, e os africanos não são excepção. No entanto, quando os africanos buscam melhores oportunidades, isso se torna um problema, e suas contribuições muitas vezes são ignoradas enquanto a sua identidade cultural é acusada de ser diluída.
Os africanos são indiscutivelmente trabalhadores. Basta dar uma olhada nos autocarros de manhã cedo em Londres ou Paris, cheios de africanos a caminho do trabalho. Olhe para a Flórida, nos Estados Unidos, onde jovens enfermeiras africanas cuidam dos idosos com compaixão e dedicação raramente encontradas em sociedades mais afluentes.
Essas mulheres economizam dinheiro para apoiar comunidades inteiras de volta para casa. Essas são qualidades admiráveis.
Essa mesma determinação impulsiona inúmeros africanos a melhorar os seus conhecimentos e educação.
O espírito de inovação e empreendedorismo é inegável, embora muitas vezes seja ignorado porque é inconveniente retratar os africanos como algo além de pessoas não confiáveis, preguiçosas e incapazes. Vamos expor essa mentira que foi projectada para justificar a exploração implacável do continente africano.
Uma mulher viajando pela África numa motocicleta está a chamar a atenção. Ela descobre que, apesar de compartilharem uma fronteira, Angola e Zâmbia carecem de estradas adequadas de ligação, o que prejudica o comércio. Isso destaca uma questão maior: a falta de intercâmbio robusto de ideias e experiências dentro da própria África.
O que alguém em Ndola, Zâmbia, pode ensinar a alguém em Luanda, Angola, ou Lubumbashi, na RDC? Os africanos devem abrir as suas fronteiras e promover um ambiente de inovação e entusiasmo. Precisamos criar mercados vibrantes onde serviços e habilidades até então desconhecidas possam ser descobertos. Esse intercâmbio intra-africano possui um potencial imenso.
O sucesso dos antigos reinos africanos foi construído com base na abertura a ideias, tanto dentro como fora do continente. Reinos como Ghana e Songhai, na África Ocidental, prosperaram por causa das caravanas que viajavam até à Arábia. Essas viagens não eram apenas para peregrinação; elas traziam de volta conhecimento, inclusive técnicas inovadoras de preservação da terra.
Hoje no Sahel, as pessoas estão a basear-se em sabedoria agrícola antiga para combater o avanço do deserto do Saara, mesclando tradição com abordagens modernas para o benefício das futuras gerações. Devemos seguir esse exemplo. Abraçar a tecnologia não significa perder a nossa essência, nossas tradições ou nossos valores. Podemos ser profundamente religiosos enquanto promovemos inovação, progresso e compaixão para o bem da sociedade global.
Em algum momento, devemos avançar além das fronteiras artificiais que nos foram impostas durante a Conferência de Berlim, onde não tivemos voz nem vez. Essas fronteiras serviram aos interesses europeus, não aos nossos. É hora de pensar além delas.
O potencial de África é imenso e, com os investimentos certos, políticas e visão, o continente pode realmente brilhar como um farol de progresso e de oportunidades.
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A ideia segundo a qual Portugal deve assumir as suas responsabilidades sobre os crimes cometidos durante a Era Colonial, tal como oportunamente defendida pelo Presidente da República portuguesa, além do ineditismo e lado relevante da política portuguesa actual, representa um passo importante na direcção certa.
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