Economia

Produção de mel e cera dão rendimentos a 170 famílias

Estanislau Costa | Lubango

Jornalista

Mais de mil litros de mel natural, assim como 400 quilos de cera começaram a ser produzidos nas 300 colmeias industriais instaladas recentemente nos campos de lavoura que se encontram nas proximidades do Parque Nacional do Bicuar.

01/02/2024  Última atualização 12H27
O projecto conta com o financiamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento © Fotografia por: DR
A acção, que conta com o apoio técnico, material e outro de vários parceiros nacionais e internacionais, envolveu, numa primeira fase, 170 famílias, entre as quais do grupo etnolinguístico Nhyanekha Nkhumby e San, que habitam as localidades de Mupembati e Nongalafa.

O administrador do Parque do Bicuar, José Candungo, que avançou os dados ao Jornal de Angola, explicou ainda que o projecto visa envolver cada vez mais famílias, sobretudo as que se encontram em situação de vulnerabilidade, e contempla também a produção de cera.

"A cera entra pela primeira vez nos planos de produção, por ter procura considerável no mercado local e de outros pontos do país, por possuír propriedades antigermicidas, antialérgicas e anti-inflamatórias, curam alergias, irritação, cortes e feridas”, disse.

Consta também do leque medicinal da cera a cura às escoriações e arranhões, além de outros problemas relacionados com a pele, notadamente rosácea e eczemas, incluindo a eliminação de tártaro dentário e traços de nicotina.

"O aumento da procura por ser matéria das pequenas e médias indústrias está a estimular a instalação cada vez mais de colmeias”, disse.

Segundo o responsável, o projecto começou, há dois anos, com 140 famílias em situação de vulnerabilidade, em consequência da estiagem e, actualmente, já se observa a adesão  de mais produtores, facilitados  pelas técnicas de montagem de colmeias, instalação e colecta dos produtos.

Realçou que o projecto prevê a protecção de todo o tipo de espécie vegetal e animal que se encontra no interior do Parque do Bicuar e tornar as grandes extensões de matagal que se encontram nos arredores em verdadeiras áreas produtivas e geradoras de rendimentos para as famílias e não só.

Constou ainda que a produção de mel inverteu também o modo de vida não só dos produtores, como também das comunidades próximas, por fomentar o comércio rural com diversas trocas comerciais.

"O mel facilita os produtores a dispensar sistemas de conservação, assim como possuir uma durabilidade natural longa”, disse.

Esta performance faz com que o administrador do Parque do Bicuar, José Candungo, considere o negócio como acção que merece ser cada vez mais fomentada, porque pela primeira vez, na história da produção e comercialização do mel na região, surgiram várias empresas nacionais que se deslocam ao local de produção para a compra do produto.

O surgimento cada vez mais de clientes, referiu, está a promover a produção, onde se regista a preparação e instalação diária de dezenas de novas colmeias, numa acção que, além dos apoios dos ministérios do Ambiente e da Agricultura e Florestas, contou com o financiamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Vedação reforçada

Pelo menos 70 quilómetros das zonas limítrofes do Parque Nacional do Bicuar possui actualmente uma vedação natural reforçada, face às dezenas de colmeias instaladas que estão a desencorajar a saída de animais de grande porte, nomeadamente elefantes e leões, por temerem as abelhas.

"A acção das abelhas está de certo modo a descongestionar o trabalho dos fiscais, por tomarem conta de um espaço considerável que inviabiliza a fuga ou migração de outras espécies”, disse, para reforçar mais adiante que há actualmente a redução da travessia dos elefantes e outros animais que invadiam os espaços de cultivo.

Já o soba Joaquim Kalengue, que administra uma das povoações próximas à reserva natural, descreveu que "o mel está a mudar a vida de muitas famílias, por servir de alternativa quando as estiagens afectam as lavras de milho e hortaliças. Já não passamos dificuldades por causa da produção e venda do mel”, disse.

A autoridade tradicional anunciou ainda que está a dialogar com as empresas para fornecer pequenos inputs que possibilitem a purificação e embalagem do mel em recipientes mais resistentes.

"Muitos de nós estamos filiados em duas cooperativas para termos acesso a apoios financeiros e equipamentos para dar mais qualidade ao mel”.

Joaquim Kalengue, com ar de satisfação, referiu que todos os valores das vendas são para as famílias, o que permite que cada uma se organize melhor e crie condições para a instalação de mais colmeias nos arredores do Parque Nacional do Bicuar.

O parque possui uma dimensão de 7.900 quilómetros quadrados, situa-se a 165 quilómetros da cidade de Lubango e foi criado em 1953, com o objectivo de proteger e defender diversas espécies animais e vegetais, estando localizado numa zona limítrofe dos municípios do Quipungo, Matala e Gambos.

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