Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
Depois de muitos anos vividos nos Estados Unidos, vi-me a reflectir sobre as profundas discrepâncias entre a realidade do Haiti e a da superpotência vizinha, os Estados Unidos. A proximidade geográfica em nada diminui as vastas diferenças entre ambos os países.
As interacções que tive com os meus amáveis vizinhos haitianos, que generosamente partilharam as suas refeições e demonstraram um sincero interesse na minha herança africana, foram reveladoras. Todavia, por detrás desta experiência positiva, percebi um preconceito preocupante que muitos americanos nutrem em relação ao Haiti, baseado em estereótipos ultrapassados de disfunção e incapacidade de autogovernança.
Os desafios do Haiti são, de facto, complexos, marcados por uma pobreza abrangente e um acesso limitado à saúde. Apoio plenamente a proposta de intervenção do Quénia no Haiti, com o objectivo de restabelecer a estabilidade e a ordem no país. Desde que o Haiti se tornou independente, em 1804, diversas forças poderosas desejavam o seu fracasso. Nos Estados Unidos, os proprietários de plantações, altamente dependentes dos seus escravizados, propagaram a falsidade de que os líderes da independência haviam fechado um pacto com o Diabo para assegurar a sua liberdade.
É fascinante observar que, embora figuras globais como o ex-Presidente sul-africano Thabo Mbeki tenham demonstrado solidariedade para com o Haiti, muitos presidentes africanos permaneceram indiferentes aos seus desafios. A conexão entre africanos e haitianos é complexa, assente numa história, herança e luta comuns pela liberdade. Seguindo o terramoto devastador de 2010, o então Presidente Abdoulaye Wade, do Senegal, confrontou-se com o sofrimento e declarou inaceitável que pessoas de ascendência africana permanecessem no Caribe sob condições de vida precárias e escassez de recursos, propondo oferecer terras no Senegal a quem desejasse regressar e recomeçar.
Esta iniciativa procurava encurtar a distância entre o Caribe e África, considerando o Caribe como uma sexta região africana de facto. Ao enviar a polícia para ajudar a manter a estabilidade, o Quénia demonstra o seu compromisso em lidar com os problemas comuns a ambas as regiões, sublinhando o que África pode oferecer ao bem-estar da sua diáspora no Caribe.
Enquanto o Haiti atravessa um período turbulento da sua história, a potencial ajuda de tropas africanas, especialmente polícias quenianos, poderia ser crucial para a estabilidade. Existem desafios iminentes, com grupos armados lutando pelo controlo do país; contudo, uma força capaz de neutralizá-los alteraria completamente o actual cenário de caos. É crucial enfrentar desafios de governança em regiões específicas, tal como fazemos com nações africanas.
Um dos problemas actuais mais graves é a ligação entre a política e o poder das gangues, evidente na história da Jamaica. Partidos políticos históricos alinharam-se com gangues para intimidar opositores e assegurar votos através da imposição do medo. Esta aliança promoveu a expansão territorial das gangues, criando uma perigosa mistura de política e criminalidade, que deve ser eliminada.
A solução passa por empoderar o Estado para servir eficazmente todas as comunidades, especialmente as mais vulneráveis. Ao assegurar que o Estado consiga fornecer serviços essenciais a todas as áreas, podemos restabelecer o respeito e a autoridade. No Haiti, as gangues tomaram o poder onde o Estado falhou, apresentando-se como protectores e prestadores de serviços. Quebrar este ciclo exige uma forte determinação política e apoio comunitário. Fortalecendo o papel do Estado, podemos diminuir a influência das gangues e promover uma sociedade mais segura e justa.
Apesar da sua pequena dimensão, os 11 milhões de habitantes do Haiti enfrentam instabilidade contínua, com demandas recentes por mudança a intensificarem-se. Ainda assim, a importância histórica do Haiti, desde a sua luta pela independência em 1804 até às recentes convulsões políticas, destaca a resiliência e coragem desta nação. Considerar o Haiti como um estado falhado devido às falhas da sua elite e à percepção de falta de recursos humanos é um grande equívoco sobre a realidade actual da sociedade haitiana. O Haiti possui uma população altamente qualificada, como é demonstrado pela engenhosidade e realizações da sua diáspora.
Quando os haitianos migram para países como os Estados Unidos, França ou Canadá, frequentemente sobressaem e demonstram o seu potencial num ambiente propício que, actualmente, o Haiti luta para oferecer. Apesar de enfrentar vários desafios, o Haiti tem produzido talentos notáveis em diversas áreas, tais como arte, cinema, música, inovação e literatura. O necessário é um ambiente estável que apoie e incentive o desenvolvimento desse talento.
A trajectória do Haiti é marcada por uma mistura de tragédia e esperança, reflectindo os amplos desafios enfrentados por nações em todo o mundo. O futuro do Haiti está, em última análise, nas mãos do seu povo, que detém o poder de moldar um amanhã mais luminoso.
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LoginA ideia segundo a qual Portugal deve assumir as suas responsabilidades sobre os crimes cometidos durante a Era Colonial, tal como oportunamente defendida pelo Presidente da República portuguesa, além do ineditismo e lado relevante da política portuguesa actual, representa um passo importante na direcção certa.
O continente africano é marcado por um passado colonial e lutas pela independência, enfrenta, desde o final do século passado e princípio do século XXI, processos de transições políticas e democráticas, muitas vezes, marcados por instabilidades, golpes de Estado, eleições contestadas, regimes autoritários e corrupção. Este artigo é, em grande parte, extracto de uma subsecção do livro “Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar, de autoria de Osvaldo Mboco.
A onda de contestação sem precedentes que algumas potências ocidentais enfrentam em África, traduzida em mudanças político-constitucionais, legais, por via de eleições democráticas, como as sucedidas no Senegal, e ilegais, como as ocorridas no Níger e Mali, apenas para mencionar estes países, acompanhadas do despertar da população para colocar fim às relações económicas desiguais, que configuram espécie de neocolonialismo, auguram o fim de um período e o início de outro.
Trata-se de um relevante marco o facto de o Conselho de Ministros ter aprovado, na segunda-feira, a proposta de Lei dos Crimes de Vandalismo de Bens e Serviços Públicos, para o envio à Assembleia Nacional que, como se espera, não se vai de rogada para a sancionar.
O embaixador de Angola na Côte D'Ivoire, Domingos Pacheco, reuniu-se, esta sexta-feira, em Luanda, com empresários e instituições angolanas, com os quais abordou questões de cooperação económica e de investimentos.
Dois efectivos da Polícia Nacional foram, quinta-feira, homenageados, pelo Comando Municipal de Pango Aluquém, por terem sido exemplares ao rejeitarem o suborno no exercício das actividades, na província do Bengo.
Vasco Lourenço, um dos capitães de Abril que derrubaram a ditadura salazarista há 50 anos em Portugal, foi hoje recebido em Lisboa pelo Chefe de Estado angolano, João Lourenço, na qualidade de Presidente da Associação 25 de Abril.
A responsável pela Secção de Crimes contra o género da Polícia Nacional, Intendente Sarita de Almeida, realizou, quinta-feira, em Juba Central Equatorial State, no Sudão do Sul, um Workshop sobre Direitos Humanos e Protecção Infantil.