Economia

Rosas rendem mais que safaris

Pedro Narciso |

Jornalista

Mais do que o turismo, as flores são já uma das principais fonte de divisas do Quénia. Meio milhão de pessoas depende dessa indústria velha de apenas três décadas.

14/02/2024  Última atualização 13H19
O cultivo de roseiras gera 80 mil postos de trabalho directos e mais meio milhão de empregos indirectos © Fotografia por: DR
Os grandes parques naturais do país, com os seus elefantes e leões, e as praias do Índico, de bela areia branca, continuam a atrair turistas europeus e americanos, muitas vezes casais em lua-de-mel.  Mas se os recém-casados gastam algum dinheiro quando estão no Quénia a verdade é que quando regressam a casa e oferecem flores uns aos outros estão, sem saber, também a contribuir para a economia desse país da África Oriental.

 É que a floricultura vale já mais em divisas que o turismo. Boa parte das rosas que se vendem nas ruas de Paris ou Londres são originárias do Quénia, onde se calcula que haja 150 quintas que se dedicam actualmente a esse negócio.

O ano passado foi mau para o negócio queniano das flores , muito por culpa da crise internacional, mas em 2010 prevê-se uma recuperação. Tudo parece jogar nestes meses a favor dos fl oricultores africanos, desde a retoma económica global até às más condições climatéricas na América do Sul este ano, que gelaram as rosas da Colômbia, uma importante concorrente do Quénia, sobretudo no mercado dos Estados Unidos. E esta prosperidade faz muita falta ao país, pois o cultivo de roseiras gera 80 mil postos de trabalho directos e mais meio milhão de empregos indirectos. Nem tudo, porém, são rosas no negócio das flores. A prosperidade da actividade, iniciada há apenas 30 anos, tem como consequência sérios danos ambientais até agora menosprezados.

A maioria  das explorações situam-se nas proximidades do lago Naivasha, uma centena de quilómetros a Norte de Nairobi, e usam e abusam de pesticidas ao mesmo tempo que desperdiçam água. Há anos,  uma reportagem no diário francês ‘Le Monde’ dava conta também dos baixos salários pagos aos trabalhadores e da exposição destes a produtos químicos perigosos. Sucessivas reportagens negativas, sobretudo na imprensa queniana, levaram os floricultores a procurar uma resposta às acusações de desrespeito ambiental e social.

Como dois em cada cinco são estrangeiros, a sua preocupação com a imagem é especialmente forte para não perderem a boa vontade das autoridades quenianas. Alguns produtores de flores juntaram-se no Conselho de Flores do Quénia e redigiram um código de boa conduta que tenta restituir-lhes a credibilidade na opinião pública.

Mas se o lago Naivasha sofre com as plantações de rosas, há que sublinhar que um estudo de uma universidade britânica definiu como seis vezes mais poluente qualquer exploração holandesa quando comparada com uma queniana. E o sucesso queniano está a ter imitadores nas vizinhanças, com Uganda e Etiópia a apostarem também nas flores. A Holanda, principal porta de entrada das flores no mercado europeu compra dores africanas, metade das  quais são oriundas do Quénia

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