Opinião

Seja qual for o final está escrita a história

Honorato Silva

Jornalista

Daqui a alguns anos, quando nos quisermos recordar do CAN’2023, em curso na Côte d’Ivoire, diremos com orgulho: “era uma vez, as Palancas Negras, desacreditadas à chegada ao palco da competição, venceram dois jogos na fase grupos, fazendo o que ainda não tinha sido feito; triunfar numa partida a eliminar, dentro da competição”. Certamente, nos lembraremos da Gibelé, a coluna de som usada para tocar Kuduro, no ensaio do Angola Avante, a canção da pátria que intimida os adversários.

02/02/2024  Última atualização 06H15
Levado pelo brilharete imprevisto das nossas Palancas Negras, com direito a rasgos de erudição futebolística, o povo abandonou os luxos importados das ligas europeias, na força da internet e da televisão por satélite, para vitoriar os seus heróis de chuteiras, que no regresso à grande montra continental da modalidade, depois da presença de má memória em 2019, no Egipto, marcada de forma negativa por discussões de prémios, resolveram jogar como nunca haviam feito, em quase cinco anos sob a batuta de Pedro Gonçalves.

E o treinador, obreiro da mudança bem acolhida pelos adeptos, inclusive por quem usava as redes sociais, nomeadamente o popular e planetário facebook, para caçoar da equipa nacional e dos seus jogadores, por comparação com as estrelas exibidas na tela mágica, a desfilarem nos relvados paradisíacos do velho continente, soube explorar as críticas e aproveitar o que de bom continham, na transformação que se seguiu aos 45 minutos iniciais, frente à Argélia, seguramente os piores de toda a história da Selecção Nacional.

Se na era dos muitos empates, várias derrotas e poucas vitórias, quase sempre com exibições desconchavadas, a culpa foi assacada ao treinador, por mim considerado pouco habilitado a tal cometimento, também é justo levá-lo em ombros, pelo mérito de ter tido, na humildade, a capacidade de constatar que o sucesso estava escondido no abandono das amarras defensivas, estratagemas de pura covardia, destinados a não perder, quando é maior o prejuízo em relação aos ganhos resultantes de tais apostas.

Sem pudor, porque o amor pátrio não conhece limites, hoje cantamos alegremente, com os nossos jogadores, "provou e gostou/provou e gostou/por ser assim me colou”. Sim, estamos abraçados aos heróis do povo, que da Côte d’Ivoire, na força da Gibelé, nos chamam ao ritmo do "ai trabalha/ai trabalha/ trabalhou?/sim trabalhou!”, "Olha tamo a vi/olha tamo a vi”, "eué/eué/eué/cambiô/é bomba/a dança dos Comba”. Um ritual imitado por outras selecções.

Queremos mais. Olhamos para as meias-finais. E se lá chegarmos, acreditamos que somos capazes de jogar à grande final. Mas, se nada disto acontecer, e tivermos de nos despedir da prova nesta noite, a história está escrita. Não haverá espaço para críticas, nem recriminações, porque as Palancas Negras fizeram enorme a nossa vaidade, na prova de competência dos mais capazes em África, quando o assunto é futebol. Este desporto de massas e emoções que ninguém sabe explicar.

Abraçamos o Presidente da República e a nossa Primeira-Dama, adeptos da linha da frente, reforços na tarefa de criarmos as melhores condições para a Selecção Nacional, pois está provado que temos futebol para regressar ao Mundial, em 2026, exactamente 20 anos depois da presença inédita na Alemanha.

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