Opinião

Sociedade “cara baixa” e a ciberdependência

Gregório Domingos *

Colaborador

As inevitáveis transformações da humanidade, volvem o mundo numa sociedade global à luz das novas tecnologias, onde existe um critério de proximidade no qual as pessoas interagem em tempo real, não importa a distância, as novas tecnologias conectam todos os cantos do planeta terra.

22/03/2024  Última atualização 06H05
Estamos interligados por fios invisíveis, teclados ou mouses, a Internet reúne os povos, capturou e fez de refém variadas culturas, não importa o continente, cor da pele, idade, género ou religião, o mundo é uma sociedade comum. Do lado inverso da moeda, as novas tecnologias desconectam o homem do mundo real e viciam a sua presença no mundo digital, torna-os alvos vulneráveis, pouco

afectivos e aceitamos desligar o botão de amar, muitas vezes somos condutores de destilação do ódio no contacto com o nosso semelhante nas redes sociais.

A tecnologia, pese embora ofereça enormes vantagens, também acarreta males de natureza física e mental, por isso, torna-se necessário compreender os impactos negativos da ciber-dependência. Em plena era dos nativos digitais, é visível o crescente número de ciberdependentes, indivíduos viciados em estarem num espaço onde não é necessária presença física do homem para constituir a comunicação, ou seja, são pessoas viciadas pelo uso das novas tecnologias de informação nomeadamente as redes sociais. Frequentemente, observamos, em diversos lugares das ruas em Luanda e pelo país, cidadãos fazendo-se portar de telemóvel nas mãos visivelmente desconectados com o mundo real. Quase que perdem a noção de tempo e espaço, encurvam o corpo e baixam a cara olhando de forma fixa principalmente no telemóvel, o dispositivo que maior parte de utilizadores, comportam como anti-sociais pelo consumo desta pesada droga cibernética.

As pessoas estão agregadas à cibercultura, a partir do uso da rede de computadores, e de outros suportes tecnológicos como, por exemplo, o smartphone através da comunicação virtual, a indústria do entretenimento e o comércio electrónico, nos oferece a hipnose digital. Pedestres caminham totalmente distraídos a manejar o telemóvel, automobilistas conduzem com a cara baixa mais preocupados em jogar, teclar as mensagens ou ver imagens, ao invés de conduzir de facto, este que é um dos principais impulsos para acidentes, e os sinistrados ficam por vezes sem perceber como o desastre aconteceu, pois também ligam o modo cara baixa. Em resultado, uns com a maior sorte são levados ao hospital, enquanto os restantes conhecem o céu, entre sete palmos debaixo da terra.

O "modo cara baixa”, infelizmente, também acontece em vários momentos e locais, onde existe à nossa volta várias pessoas, mas a maior tendência é prestar maior atenção a quem esteja ausente, distante e em muitos casos nem conhecemos fisicamente. Existem consumidores como o "modo cara baixa” super activados, quase perdem a respiração quando o telemóvel assinala 10% de carga, dormem e acordam com os dados ligados, e ao acordar a primeira acção é olhar para o telemóvel e visitar vidas alheias. O apego tornou-se grandioso, qualquer frustração, vitória, aspectos da vida pessoal são publicados preferencialmente no Facebook e WhatsApp.

Aos poucos transferimos os sentimentos no mundo virtual, com sangue bombeado por coração platónico fazemos download no apego a pessoas artificiais, que quando cruzamos presencialmente nem sequer saudamos, cada um tornou-se espião do outro. Esta situação remete-nos à reflexão profunda dada a desconexão do homem com os seus semelhantes, o humanismo perde-se, a insensibilidade a ganha espaço, o homem isola-se do mundo e adopta comportamentos anti-sociais.

Os prejuízos físicos e mentais causados pelo uso excessivo e a postura inadequada no manejo do telemóvel quando não corrigidos são irreparáveis. Do ponto de vista físico os danos frequentes são: fortes dores no pescoço, ombros e costas; tensão muscular e pressão sobre a coluna vertebral, que, na maioria, evoluem a lesões músculo-esqueléticas. Quanto ao lado mental, temos a solidão, ansiedade, depressão, baixa auto-estima, fraca assimilação e outros.

A deseducação é gritante numa sociedade onde se luta pelo resgate dos valores morais e culturais, é de extrema importância a mudança de hábitos e comportamentos prejudiciais à convivência saudável, contribuindo para perdas de vida, destruição de famílias, etc.

Para evitar esses riscos, a solução passa por praticar exercícios para os olhos, priorizar as interacções realizadas offline / face-a-face com amigos e familiares, monitorar o tempo gasto no telemóvel, cultivar actividades que promovam o bem-estar mental. Manter uma postura correcta ao utilizar o telefone, manter a coluna erecta e os ombros relaxados, outro senão passa por fazer pausas regulares, optar por auscultadores de formas a reduzir a tensão no pescoço e nos ombros.

É chegado o momento de desligarmos o modo cara baixa, activar os olhos da mente, para apartar da ciber-dependência, bem como, da hipnose digital, e perceber que os cuidados a ter com a saúde física e mental a longo prazo são fundamentais.      

      *Pedagogo e consultor educacional

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Opinião