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Tutsis no Rwanda foram massacrados pelos hutus

O Chefe de Estado rwandês, Paul Kagame, disse, ontem, que está preocupado com a posição dos Estados Unidos da América de não reconhecerem o genocídio de 1994 como um massacre contra a minoria tutsi do país, afirmando que, em relação a estes acontecimentos trágicos, está tudo muito claro.

10/04/2024  Última atualização 12H20
Paul Kagame manifesta repulsa contra tentativa de distorcer a história do genocídio © Fotografia por: DR

Kagame reagiu a uma publicação do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, na rede social X (antigo Twitter), que generaliza os acontecimentos de 1994. "Lamentamos os muitos milhares de tutsi, hutu, twa e outros, cujas vidas se perderam durante 100 dias de violência indescritível", escreveu Blinken.

Paul Kagame disse aos jornalistas que a questão foi discutida com o antigo Presidente dos EUA, Bill Clinton, que liderou a delegação norte-americana na cerimónia do 30.º aniversário do genocídio, em que os extremistas hutu massacraram cerca de 800 mil pessoas, a maioria das quais, tutsi. As autoridades rwandesas insistem que qualquer ambiguidade sobre quem foram as vítimas do genocídio é uma tentativa de distorcer a história e desrespeita a memória das vítimas.

Os Estados Unidos não comentaram o sucedido, mas o Presidente Joe Biden emitiu uma declaração no domingo, na qual afirma que os "horrores daqueles 100 dias" nunca serão esquecidos. No entanto, num discurso proferido no domingo, Paul Kagame afirmou que os rwandeses estão revoltados com o que descreveu como "a hipocrisia das nações ocidentais, que não conseguiram impedir o genocídio”.

O massacre foi desencadeado quando um avião que transportava o então Presidente Juvénal Habyarimana, um hutu, foi abatido sobre Kigali, a capital do Rwanda, a 6 de Abril de 1994. Os tutsis foram responsabilizados pelo ataque e pela morte de Habyarimana, tornando-se, a partir daí, alvos de extremistas hutus durante 100 dias.

O Governo do Rwanda há muito que culpa a comunidade internacional por ignorar os avisos sobre os assassínios, com alguns líderes ocidentais a expressarem arrependimento, nomeadamente o Presidente Emmanuel Macron, que declarou que a França poderia ter evitado o massacre.

Entretanto, em Fevereiro, os EUA instaram o Rwanda a retirar as tropas e sistemas de mísseis do Leste da RDC, descrevendo, pela primeira vez, o Movimento 23 de Março (M23) como um grupo rebelde apoiado por Kigali.

Os peritos das Nações Unidas afirmaram ter "provas sólidas" de que membros das forças armadas do Rwanda estavam a conduzir operações em apoio ao M23, cuja rebelião causou a deslocação de centenas de milhares de pessoas na província de Kivu do Norte da RDC.

Kigali defende direitos do M23

O Presidente Paul Kagame afirmou, ontem, que o M23 está a lutar pelos direitos dos tutsis congoleses, dos quais, pelo menos 100 mil procuram, actualmente, abrigo no Rwanda, depois de terem fugido dos ataques no Leste da RDC.

As autoridades ruandesas afirmam que pretendem dissuadir os rebeldes, incluindo os extremistas hutus responsáveis pelo genocídio, que fugiram para a RDC. A composição étnica do Rwanda mantém-se praticamente inalterada desde 1994, com uma maioria hutu.

Os Tutsis representam 14% e os Twa apenas 1% dos 14 milhões de habitantes. O Governo rwandês, dominado pelos tutsis, proibiu qualquer forma de organização de carácter étnico, como parte dos esforços para construir uma identidade nacional. Os bilhetes de identidade já não identificam os cidadãos por grupo étnico e as autoridades impuseram um código penal rigoroso para contra quem rejeite o genocídio.

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