Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
Olhamos, muitas vezes, para a questão das alterações climáticas como se se tratasse de um fenómeno que diz respeito apenas aos outros. A verdade, porém, é que na humanidade, actualmente, mais nenhuma geografia encontra-se imune às alterações climáticas globais. Os seus efeitos são sentidos em todo o lado e nós, africanos, em especial, angolanos, não ficamos ilesos.
Ao contrário, o economista Nouriel Roubini, autor do best-seller "Mega-ameaças” tem, sobre este quesito, uma visão mais contundente: "África parece uma bomba-relógio ambiental”. Apesar desse prognóstico, em certa medida chocante e alarmista, o mesmo autor encontra no empreendedorismo uma solução forte para lidarmos com a situação em que a maioria dos Estados são considerados muito frágeis e quase falidos.
Os números do crescimento populacional de áfrica são vistos com perspetivas muito diferentes. Por um lado, há os entusiastas e defensores desse crescimento populacional, numa lógica de mercado, apoiados principalmente pela experiência chinesa. Por outro, encontramos aqueles que se mostram muito reservados quanto ao impacto económico e social dessa mancha demográfica pois trata-se de uma manta humana sem renda e know-how, o que levanta mais problemas do que benefícios.
Então, a maioria dos analistas colocam uma enfase, quando olham para a realidade social e económica, mesmo política, para a questão do fortalecimento do poder das mulheres como uma das saídas para a resolução dos dilemas com que se depara o continente.
Na verdade, as mulheres ocupam um lugar central em África. E não vemos isso apenas em relação à condição natural da maternidade. Vemos isso em relação à sua capacidade natural de liderança de processos educativos- formativos em relação aos filhos. São as mulheres que percorrem milhares de quilómetros de distância, a pé, para prover água e outras condições de sustento, geralmente absorvidas pela economia informal que ocupa um peso substancial.
Não tenho, por isso, a menor dúvida sobre o quanto é extremamente importante educarmos as mulheres. Educar no sentido da sua formação académica, mas principalmente em relação a sua componente de cidadania para lidar com os desafios do novo mundo que passam pela questão ambiental que referi anteriormente, mas também pelas questões de saneamento, uso das tecnologias e inclusão financeira.
Quando olhamos, por exemplo, ao impacto de programas como o Kwenda rapidamente percebemos o enunciado anterior. Esse é, do meu ponto de vista, o motor da necessidade de continuarmos na nossa sociedade a mobilizarmo-nos em prol do empoderamento e da emancipação das mulheres.
A luta contra as desigualdades e a paridade na liderança política e empresarial é um caminho sobre o qual temos vindo a trilhar, com forte engajamento político da governação. Por isso, os nossos números, nessa matéria, são expressivos, mas é ainda mais expressiva a presença de mulheres em posições tão habitualmente "machistas”, que hoje olhamos com naturalidade, face a sua performance e esse poderia nem sequer constituir motivo de análise uma vez que a necessidade e o apelo à meritocracia não se coloca aos homens – obviamente que é vital, indiscriminadamente.
Falo por exemplo, da ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa. Falo também da presidente do Tribunal Constitucional, Laurinda Cardoso, bem como da presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira. Estamos a falar de posições-chave nos três poderes republicanos e, portanto, uma demostração do trilho que estamos a percorrer.
Ora, o mês de Março, no nosso seio, tem uma carga simbólica enorme e devemos aproveitar para também meditarmos sobre o tema da violência do género e, particularmente, contra as mulheres; falar do tema do aborto; do tema das adolescentes e jovens que são muitas vezes obrigadas a abandonar o ensino por diversas razões decorrentes da sua condição de mulher, o que passa pela gravidez precoce e indesejada até a ausência de higiene (quartos de banho e lavabos) ou ainda as próprias condições sociais, económicas e culturais que levam a que muitas famílias privilegiem a formação escolar dos meninos em detrimento das meninas.
Aprecio bastante a obra do Prémio Novel da Economia de 2001, Joseph Stiglitz, com o título "O preço da desigualdade”. O preço da desigualdade é o que pagamos pelo estágio actual da nossa civilização onde as ideias neoliberais campeiam. Na verdade, nas nossas sociedades de países em vias de desenvolvimento, as desigualdades são mais anacrónicas e urge uma abordagem para as corrigir, sob pena delas exporem o Estado. E nesse capítulo, considero importante o fortalecimento do poder das mulheres. A sua liderança é, quanto a mim, positivamente diferente! Embora o debate seja actual, "não quero discutir”, como sói dizer-se. De resto, parafraseio a conclusão do mesmo autor, mutatis mutandis em relação à problemática abordada: outro mundo é possível.
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LoginA ideia segundo a qual Portugal deve assumir as suas responsabilidades sobre os crimes cometidos durante a Era Colonial, tal como oportunamente defendida pelo Presidente da República portuguesa, além do ineditismo e lado relevante da política portuguesa actual, representa um passo importante na direcção certa.
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