Opinião

Um triângulo de amor para durar

Carlos Calongo

Jornalista

Os sinais da presença da China em Angola são por demais evidentes em várias vertentes, desde os mais ínfimos aos mais amplos factores. Aliás, uma caminhada básica pela Avenida Fidel Castro Ruz, também conhecida por Via Expressa, cuja extenção vai do Benfica a Cacuaco, é suficiente para ver o quanto os chineses estão entre nós.

17/03/2024  Última atualização 05H00

Na referida extensão de asfalto,  existe um pouco de tudo que os chineses oferecem aos angolanos. Desde o comércio geral, potenciado por shopping como o da Cidade da China, o Shopping Popular e outros, passando pela construção civil, à indústria de automóveis, habitação e etc.

A presença da China em Angola representa investimentos avultados, parte deles desembolsados por negócios de entidades privadas, subestrato que, quase sempre, é associado a práticas de condenáveis actos de pouco humanismo, como são os casos recentemente reportados, em que empregadores chineses molestam física e psicologicamente trabalhadores angolanos.

Independentemente dos "irritantes”, é um acto de elevação de consciência reconhecer que a realidade impõe a obrigação de existência de um amor para durar por longos anos, pois a intimidade entre os dois povos assim o determina, salvaguardando,portanto, os aspectos negativos que mais não são do que manifestações humanas isoladas, baseada na condição natural, que faz do homem um ser falível e, por decisão circunstacial, dedicado ao cometimento de algumas incivilidades, por razões que só ele consegue explicar.

Está claro que, entre os Estados, a relação deve estar baseada, sempre, no princípio da reciprocidade de vantagens, sendo esse o principal farol para as trocas comerciais realizadas que, nesta altura, deixam Angola numa situação de aperto financeiro de 17, 9 mil milhões de dólares, referentes ao stock da dívida pública para com o gigante asiático. Essa realidade só tem uma resposta: resolução.

E não há como negar que esta realidade,  pode ter estado na base da motivação para a visita de Estado que o Presidente da República, João Lourenço, realizou, neste final de semana, a Beijing, na perspectiva de relançamento da relação que, alguns especialistas consideram ter conhecido, ao longo dos últimos tempos, algumas escoriações, fundamentadas com os recentes conctactos bilaterias que Angola desenvolve com os Estados Unidos da América.

Sobre a presença dos americanos no solo pátrio angolano, noves fora as questões formais do campo da diplomacia e do mundo petrolífero, não pode ser comparada à intesidade da presença da China. Mas, a verdade é que cada um dos citados Estados mantem alguma relação com Angola.

Descontando as (in)certezas nos comentários de quem pensa estar, Angola, numa condição que se iguala à mulher que traiu um para aderir outro amor, há que advertir para a razão de que, em profundidade, o que ocorre com Angola pode ser entendido como a expressão máxima da teoria de que, em política não existem amigos nem inimigos permanentes.

Pelo contrário, existem, isso sim, interesses permantes, que os Estados perseguem na intenção única de satisfazer as aspirações dos povos para os quais governam.Desta realidade, é curial recordar que o histórico da relação entre angolanos e americanos não constam, apenas, banquetes regalados com as mais caras especiarias.

É bom recordar a lição que, na referida relação, já foram servidos alguns pratos cujo sabor (des)agradou as partes, mas que foram geridos de acordo com os interesses permanentes que os Estados têm um para com o outro, mantendo-se a base nas trocas,  envolvendo o crude, e a vida sempre andou.

Todavia, a intenção demonstrada pelos norte - americanos em marcar uma presença mais forte em Angola, sobretudo com interesses no corredor do Lobito e na Agricultura não pode, nem no mundo imaginário, ser entendida como o fim da relação angolana com os chineses, aliás, o que não é exequível para nenhuma das três partes.

É evidente que, de soslaio, assiste-se a uma corrida em que chineses e americanos buscam as melhores vantagens na cooperação com os angolanos, que devem saber aproveitar este manancial de cobiça, para (re)negociar as melhores vantagens, a considerar o muito que têm por oferecer e de que necessitam.

Isso pressupõe um exercício de revisão permanente e pontual dos instrumentos de cooperação, por via da realizações de encontros de alto nível, em que sejam evocados os interesses nacionais, como o que melhor os Estados possam dar e receber.

Em suma, defendemos uma cooperação em que haja espaço para todos os actores, respeitando-se os laços históricos, que deve funcionar como valor para desiqulibrar a balança quando complicada por alguma razão de extremos. Nisso, a China deve ser recordada pelo facto de, após o fim imediato do conflito armado em Angola em 2002, quando o país tinha a necessidade premente de avultados recursos financeiros para a sua reconstrução nacional, ter sido o único país do mundo que, verdadeiramente, socorreu Angola.

O mundo ocidental, de certo que ainda não esqueceu da rejeição em mobilizar uma conferência internacional de doadores pela qual Angola quase implorou de joelhos e recebeu um um não. Então, aceitemos que existe, entre Angola, EUA e China, um triângulo de amor para durar.

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