Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
Falar da crise de valores morais e cívicos tornou-se um assunto bastante actual e actuante em Angola.São por demais conhecidas as distorções havidas no quadro dos valores morais e cívicos, em decorrência dos contextos históricos que o país viveu e vive ao longo dos tempos.
No período colonial, como no período pós-colonial, a fragilização de valores morais e cívicos foi um processo inevitável, associado às dinâmicas societais inerentes.
Sobre os valores morais e cívicos ocorre-nos referir que a problemática situa-se em contextos sociais específicos. Os valores são partes importantes de todas as culturas que servem para influenciar as opções de vida que os indivíduos fazem no processo de socialização.
Os valores são morais porque visam a prática do bem conforme padrões socialmente aceites por uma dada colectividade.O homem é um cidadão e, como tal, usufrui de direitos, mas também cumpre deveres. Os deveres do homem, enquanto membro de uma sociedade, de um Estado, de um país, são fundados em valores, portanto, valores cívicos.
No contexto angolano, a degradação dos valores morais e cívicos,enquanto perda de valores, é uma questão ontológica.
O nosso país viveu dois períodos distintos no seu percurso histórico: o período colonial e o período pós-colonial. O primeiro tem sido considerado por historiadores como sendo de cinco séculos de exploração portuguesa.
Para além da violência física, o processo de violência simbólica, (emprestando uma expressão dos sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passron), contra os povos de Angola por parte do regime colonial português, deixou sequelas profundas. Tais sequelas reflectem-se no mosaico histórico e cultural, através da destruição ou enfraquecimento de valores intrínsecos à nossa cultura, em favor dos valores do colonizador.
Já no período pós-colonial, na etapa em que o país teve como sistema político, o "mono partidarismo”, vivenciou-se uma cultura de Estado centralizado, cuja ideologia não permitiu o debate franco e aberto de questões culturais tidas como bastante sensíveis, o que provocou a imposição de valores, por meio de uma educação excessivamente baseada em ideologias ou pelos aparelhos repressivos do Estado.
Nessa etapa, o Estado optou por uma postura que, até certo tempo, compreendia-se como imposição de valores sem o mínimo de consenso social, bem como afastou do processo educativo formal outros actores que poderiam dar uma contribuição valiosa, a exemplo das igrejas.
Na etapa de 1991 a 2002, há dois factores fundamentais a considerar: o primeiro prende-se com a abertura política e a tentativa do início da construção de um Estado democrático de direito, resgistando-se a entrada em cena de vários outros actores, como as igrejas, organizações da sociedade civil e novos meios de comunicação social, mormente privados.
Na era, sentiu-se o prenúncio de um maior impacto da influência por parte da designada sociedade civil, em rede. Deu-se, igualmente, o início da liberalização da economia, porém, feita na base de um programa se calhar não bem estruturada, que causou sérios danos económicos, sociais e mesmo culturais. O espírito do enriquecimento fácil, o aumento de indivíduos sujeitos à pobreza e à exclusão social, a delapidação do erário, ganharam terreno nessa etapa.
O segundo factor a considerar, que também é extensivo à primeira etapa do período pós-colonial, é a guerra civil que devastou o país durante 27 "penosos” anos.
A guerra desestruturou famílias, destruiu comunidades inteiras e seus bens. Obviamente, destruiu ou fragilizou parte dos seus hábitos e costumes. Enraizou a cultura da violência, diminuiu o sentimento de solidariedade e de amor ao próximo.
Constato, com apreensão, que muitos angolanos, com ênfase aos mais jovens e sobretudo nos grandes centros urbanos, revêem-se mais em valores culturais de outras realidades que não a angolana, inspirados pela difusão através das chamadas tecnologias de informação e comunicação, destacando-se a televisão por satélite e a internet.
A delapidação de recursos do erário por parte daqueles que exerceram ou exercem altas funções no aparelho governamental, as grosserias no espaço público,no trânsito por exemplo, a desestruturação das famílias, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e outras drogas, a cultura do imediatismo são, dentre outros, sintomas da crise de valores na sociedade angolana.
Perante este quadro, a família tem um gigantesco desafio de munir-se de uma capacidade cognoscitiva condizente aos novos ventos da história. Ela tem de ajudar os membros da sua prole a lidar com tais valores novos que a sociedade em rede implica, dotando-os de uma racionalidade ética para a construção de uma Angola melhor.
Outros entes que têm papel preponderante na educação restaurativa, visando uma sociedade de valores, que visam a coesão social são: o Estado, a escola, a sociedade civil, a igreja e os meios de comunicação social.
O Estado, por exemplo, tem como finalidade a realização do bem comum dos seus cidadãos, promovendo o seu crescimento material e cultural. Para esse desiderato, cada cidadão deve exercer o seu papel individual e colectivamente.
Uma das formas que corporiza esse exercício é a observância prática dos valores morais, o usufruto dos direitos e o cumprimento dos deveres para com o trabalho, a família, o Estado e outros entes socialmente aceites.
O Estado tem de ser, através da sua acção quotidiana, um exemplo na observância das regras que ele mesmo estabelece, bem como aquelas que são de carácter universal.
* Sociólogo, Docente e Investigador no (ISCED/Luanda) e no Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto
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