Opinião

Adeus à Champions como um vira-lata

Honorato Silva

Jornalista

Por muito que a pirotecnia discursiva pinte o mais belo quadro, a adornar a tese de suavização do afastamento do Petro de Luanda, apenas o velho complexo de vira-lata justifica a saída de cena do embaixador angolano, na Liga dos Clubes Campeões Africanos de futebol, ao deixar escapar um triunfo quase certo, frente ao TP Mazembe do Congo Democrático.

12/04/2024  Última atualização 06H20
Depois da primeira "mão”, marcada pela atitude estoica, em Lubumbashi, na resistência às investidas do colosso continental, os petrolíferos tiveram o mérito de fazer do factor casa a grande fortaleza no assalto ao acesso às meias-finais, cuja materialização deixaria o bi-campeão nacional a uma eliminatória da presença inédita no Mundial de Clubes.

Donos do seu destino, os tricolores às ordens do português Alexandre Santos abriram mão dos actos protocolares, para assumir sem rodeios o comando da partida, atitude premiada, com toda a justiça, pelo avanço no marcador e, consequentemente, na discussão do apuramento, ainda antes da meia-hora de jogo. Apenas na última acção da primeira parte, o adversário conseguiu perturbar a defensiva do Petro de Luanda, num lance que quase terminou em golo.

Mas o desmoronamento da altivez competitiva dos tricolores, imbatíveis durante toda a fase de grupos, com a particularidade de ter ficado sete jogos sem sofrer qualquer tento, foi uma questão de tempo. O velho complexo de vira-lata voltou a roubar a cena, quando tudo se conjugava para uma festa sem igual, nos braços da grande "Onda Amarela”, que inundou o 11 de Novembro.

Do nada, a equipa entrou numa redoma e, perdida na vaidade alimentada pelos os espelhos à volta do campo, gastou o tempo a jogar ao ritmo do berreiro do público na bancada, enquanto os visitantes, habituados às grandes decisões, espreitavam o momento certo de ferir de morte as aspirações angolanas. E, por saber que bastava fazer um golo, subiram linhas e encontraram um ponto de fragilidade na sincronia defensiva que tornava inviolável a baliza à guarda de Hugo, desorientado na decisão de reforçar o ataque, arrojo bem aproveitado pelo adversário, no momento de confirmar o encaixe financeiro, por mais um triunfo.

Não houve mérito do TP Mazembe. Apenas um Petro de Luanda que tremeu na base e enjeitou a possibilidade de ser feliz, por incapacidade de, ao menos por um instante, fingir ser um grande em África, com direito a sentar-se à mesa dos tubarões, sem ser olhado de esguelha. Pela produção das equipas, até ao penalizador golo de empate, a eliminatória estava encaminhada a cair para o lado dos petrolíferos. Aliás, de tanta submissão dos congoleses, faltava somente definir os números do apuramento.

Ficou uma grande lição. As oportunidades de aniquilar os oponentes devem ser aproveitadas, ao invés da aposta desavisada na troca de mimos com um adversário praticamente prostrado, que, no entanto, explorou a soberba do vira-lata, para, num truque "circense”, desferir o golpe fatal. E assim afogou-se, na espuma da "Onda Amarela”, um sonho que esteve a minutos da realidade.                         

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