Opinião

Reflexões sobre os Caminhos da Paz em Angola: 22 anos depois

Osvaldo Mboco

*Professor de Relações Internacionais e mestre em Gestão e Governação Pública, na especialidade de Políticas Públicas

Os longos anos de guerra civil (27 anos), em Angola, pareciam intermináveis devido à complexidade e a dimensão de um dos conflitos mais sangrentos de África, que ceifou várias vidas humanas e destruiu um país que acabava de alcançar a independência, colocando filhos da mesma pátria a lutarem uns contra os outros.

05/04/2024  Última atualização 07H05
Esta amarga esperança nunca mais o povo angolano deve voltar a passar, em função disto, os políticos, as igrejas, as famílias, as escolas e a sociedade civil e todos os angolanos devem conservar o maior ganho, depois da independência que é a paz.

A juventude sempre esteve nos momentos decisivos da nossa história, quer desde o período da luta armada, quem esteve no campo de batalha foram os jovens, sendo caso para citar Franz Fanon quando afirmava que cada geração tem uma missão e que cada uma tem de se questionar qual é a missão da sua geração? Talvez eu não tenha a resposta a pergunta, mas uma coisa eu sei, que a missão desta geração não é a prática de actos de violência e vandalismo. Posso não estar certo, mas penso que a missão da nossa geração é de se capacitar para desenvolver este país.

Um dia ouvi uma senhora mais velha a dizer: "meu filho, nós só temos este país, não temos outro, então vocês jovens devem estar comprometidos com a nação”. Porque a pátria aos filhos não implora, mas sim ordena.

A abordagem sobre o processo de paz em Angola remete-nos para um recuo histórico, ainda que telegráfico, para a compreensão dos diferentes momentos que dominaram a longa e sofrida marcha para o alcance de paz em Angola.

O dia 4 de Abril de 2002 marcou o ponto de viragem no esforço desenvolvido para o alcance da Paz e Reconciliação Nacional, que permitiu o país perspectivar novas abordagens e desafios para o crescimento e desenvolvimento de Angola no sentido de tornar o país num melhor lugar para se viver.

Neste dia lembro-me de que estava na nossa casa, no município do Cazenga, com os olhos voltados para a televisão, que fizera a cobertura do acto de assinatura de paz, entre os generais, Armando da Cruz Neto, pelo Governo, e Abreu Mwengo Ukwatchitembo "Kamorteiro”, pela UNITA, no Palácio dos Congressos em Luanda, perante a presença do então Presidente José Eduardo dos Santos, membros do Governo, Corpo Diplomático, líderes religiosos e outros convidados. A data ficou registada nos anais da história de Angola como Dia da Paz e da Reconciliação Nacional.

As imagens que chegaram até as casas dos angolanos era a demonstração clara que o país acabava de assinalar uma nova fase da sua história, uma fase que permitisse o reencontro e o perdão entre os irmãos da mesma pátria que estavam desavindos, mas também trazia consigo a responsabilidade de todos sermos partícipes da construção da nova Angola, dos desafios que resultavam deste momento, a participação de todos os filhos de Angola que amam e pensam no desenvolvimento do país, sem distinção de tribos, etnias ou regiões, mas sim, a esperança de tornar Angola num país melhor para se viver e reafirmar a frase do saudoso Presidente António Agostinho Neto "De Cabinda ao Cunene um Só Povo e Uma Só Nação”

O país estava devastado pela guerra, os caminhos cortados, as infra-estruturas destruídas, era necessário construir e reconstruir Angola não simplesmente pela via do betão, mas também na direcção para os aspectos económicos e sociais, num segundo país mais minado no mundo depois de Camboja.

A partir daquele momento, um grande desafio impôs-se aos angolanos, o da manutenção da paz, reconstrução do país e da reconciliação nacional. Daí, o facto de José Eduardo dos Santos ter declarado que a tarefa seguinte era transformar o país num canteiro de Obras. É dentro deste espírito que se pode compreender o surgimento no período pós-guerra de novas zonas habitacionais, industriais, polígonos de irrigação agrícolas, represas hidroelétricas, estradas, aeroportos, caminhos-de-ferro e portos.

A independência e a paz são as maiores conquistas do povo angolano e a preservação é uma tarefa de todos os angolanos.

A paz não é simplesmente o calar das armas, mas temos que concordar que o calar das armas é o elemento primário para o crescimento e desenvolvimento económico, bem-estar, segurança, a livre circulação de pessoas e mercadorias, sem paz seria impossível esses ganhos.

*Professor de Relações Internacionais e mestre em Gestão e Governação Pública, na especialidade de Políticas Públicas.

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