Em Angola, como em muitos países do mundo, o 1º de Maio é feriado nacional e costuma ser celebrado com marchas e comícios, em que se fazem discursos reivindicativos de direitos dos trabalhadores. Não é uma data qualquer.
Hoje, a nossa Nação e, particularmente, a comunidade jurídica assinala um ano da entrada em funções dos juízes de garantias, magistrado com dignidade constitucional que, entre nós, passou desde 2 de Maio de 2023 a ter a responsabilidade de salvaguardar os direitos individuais de qualquer pessoa alvo de investigação por um suposto acto criminal derivado da sua conduta.
Um senhor caminha num dos passeios da cidade, debaixo do sol ardente do meio-dia, numa quarta-feira. Sozinho, marca passos largos. Mas, num anda-pára constante, gesticula. Estranhamente, ralha o vazio do jardim, onde ninguém está por perto.
Será que pirou ou talvez, naquela hora do dia, esteja a falar com os cazumbi (fantasmas) que só ele consegue ver? Terá o homem problemas psicológicos, bebido "água do chefe” ou passado por algo mais forte? Ou será vítima de uma acção maligna? Ninguém se atreve a se aproximar do homem para perguntar-lhe directamente.
Naquele momento, todo o receio dos "espectadores” nos arredores do senhor enervado tem razão de ser, antes que se tornem no inimigo visível de uma batalha que ninguém sabe como surgiu nele.
O episódio que tive a oportunidade de assistir, nestes primeiros dias de Abril, mês da Paz, serviu de fertilizante para nutrir o solo da minha mente e escrever esta crónica da "Lavra de Reflexões”.
Na minha lavra, fiquei a reflectir sobre como o homem, pelo estado de espírito e da alma ou pelas circunstâncias da vida própria ou alheias à sua vontade, pode viver numa guerra insana ou numa paz consigo mesmo, ante a falta de auto-controlo.
Muitas vezes, a vida coloca-nos em ocasiões em que somos impingidos a enfrentar situações susceptíveis de tirar a nossa paz interior. Estas situações podem ser por decisões pessoais, pelas relações interpessoais, profissionais, familiares ou por simplesmente viver.
Quantas vezes, alguns amigos, familiares, colegas de trabalho, chefes ou estranhos, de forma involuntária ou por inveja, tentam tirar a nossa paz, simplesmente pela nossa forma de ser, pela competência profissional, pela criatividade, pelas relações humanas ou apenas por existirmos?
Em todos os casos, o melhor é respirar fundo. Porque há gente perversa. Todos conhecem aquelas pessoas que parecem talhadas para o mal. Gente cuja vida desde o nascer até ao pôr-do-sol atazanam a vida dos outros. Indivíduos que podem simular comportamento bondoso num dia, mas, não tardam, acabam por revelar a face mordaz, implicando-se por tudo e por nada e com todos.
Tudo porque não se sentem bem ao ver a alegria, a evolução, o bem dos seus próximos. Gente deste tipo empenha-se nas coisas que prejudicam e não mexe sequer uma falange do dedo da mão quando se trata de algo benéfico para os outros. Fazem de tudo para maximizar acções para o outro "ver” do que para melhorar a vida do seu próximo, quando o ideal seria minimizar o mal.
O que seria do mundo se todos seguissem a minha máxima segundo a qual "para o mal o mínimo e para bem o máximo”? Ou seja, as pessoas devem fazer o mínimo ou nada para o mal e o máximo ou tudo para o bem.
Pronto, se eu tivesse coragem para falar com aquele senhor do início deste texto, diria a ele para respirar fundo, independentemente do que houve. As pessoas e circunstâncias malignas estarão sempre aí para nos tirar do sério e nos levar a reagir veementemente. Muitos humanos, sobretudo os malfeitores, talvez sejam inocentes do princípio milenar de que a mudança começa dentro de nós. A paz exterior também começa no interior.
Entretanto, ninguém pode permitir que o mau carácter dos outros afecte o nosso comportamento. Convém deixar que a má feição alheia arruine quem assim é. Pois, não creio que quem tira a tranquilidade da vida do próximo esteja em paz consigo mesmo.
Pode ser duro, mas às vezes o ideal é afastar-se temporariamente para evitar atitudes, práticas, situações e pessoas nocivas, pois a Bíblia ensina que mais vale o pouco com paz do que o muito com guerra.
A sensatez aconselha à ponderação e, fundamentalmente, a respirar fundo sempre em todas as circunstâncias da vida, sobretudo aquelas capazes de tirar o nosso sossego. Portanto, é preferível respirar fundo sempre com o preço mais barato a pagar para manter a paz interior, a deixar os nervos à flor da pele. Aliás, ninguém pode garantir paz aos outros se não estiver em paz consigo mesmo.
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