Política

Presidente João Lourenço discursa hoje no Centro Cultural de Belém

Bernardino Manje | Em Lisboa

O Presidente João Lourenço participa, hoje, em Lisboa, a convite do homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, no acto central das comemorações do 50.° aniversário da Revolução dos Cravos, que marcou o fim da ditadura fascista e a instauração da democracia em Portugal.

25/04/2024  Última atualização 09H50
Chefe de Estado e a Primeira-Dama foram recebidos pelo ministro Téte António, pela embaixadora Maria Ferreira e entidades portuguesas © Fotografia por: RAFAEL TATI | EDIÇÕES NOVEMBRO

O Chefe de Estado angolano, que se faz acompanhar da Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, chegou na noite de ontem a Lisboa, devendo proferir um discurso no acto alusivo ao 25 de Abril, que decorre, no princípio da noite, no Centro Cultural de Belém.

No quadro das celebrações a "A Incidência do 25 de Abril nas relações entre Angola e Portugal, ontem e hoje” foi o mote de um debate promovido, ontem, pelo Centro de Articulação com a Diáspora (CAD), em Lisboa, no âmbito da participação do Presidente João Lourenço nas comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, de 25 de Abril de 1974.

João Lourenço é convidado do homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, para participar numa sessão especial que marca a efeméride e vai contar com a presença de vários Chefes de Estado.

Na agenda do Presidente João Lourenço consta, igualmente, um encontro, amanhã, sexta-feira, com a comunidade angolana residente em Portugal.

As expectativas deste grupo de angolanos com a vinda de João Lourenço esteve também em análise no debate sobre "A Incidência do 25 de Abril nas relações entre Angola e Portugal, ontem e hoje”, moderado pela jornalista Ângela Cardoso.

Como convidados, participaram Eduarda Ferronha, líder associativa, Belarmino Adriano, antigo vice-cônsul de Angola no Mongo (Zâmbia), Victor de Carvalho, coordenador do Centro de Articulação com a Diáspora (CAD), e Armanda Jorge, apresentadora de televisão.

A Revolução do 25 de Abril de 1974, também conhecida como Revolução dos Cravos, é uma consequência das revoltas das colónias africanas, entre elas Angola, que tornou possível a descolonização, a independência da Angola e de outras colónias portuguesas.

Importância atribuída actualmente à efeméride

Uma sondagem apresentada na sexta-feira, em Lisboa, pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril revela, entre outros, que 65 por cento dos cerca de 1.200 portugueses inquiridos consideram a Revolução de 1974 o facto mais importante da História de Portugal.

A sondagem foi realizada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do Instituto Universitário de Lisboa, em parceria com a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, o jornal Expresso e a estação de televisão SIC.

Filipa Madeira, uma das apresentadoras da sondagem, destacou que 67 por cento dos inquiridos consideram Portugal tão democrático quanto outros países europeus e acrescentou que esta é uma visão que tem crescido desde 2004.

Além do Chefe de Estado angolano, já confirmaram presença nas comemorações os Presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, e de Timor-Leste, José Ramos-Horta, que já se encontra na capital portuguesa.

A Revolução dos Cravos (assim se chama porque uma flor de cravo foi colocada na ponta das baionetas dos soldados) não só abriu caminho para a instauração da democracia em Portugal, como também precipitou as independências das ex-colónias portuguesas em África.

Entretanto, para muitos, o 25 de Abril de 1974 também só foi possível graças à acção dos movimentos de libertação das então colónias.

"A acção de movimentos como a Frelimo, em Moçambique, MPLA em Angola e PAIGC na Guiné-Bissau e Cabo Verde fez os militares portugueses perceberem que esta (a guerra colonial) era uma guerra sem sentido, que tinha de ser parada e que a única forma de a parar era com uma revolução em Lisboa”, afirmou o Secretário-Geral das Nações Unidas, em Fevereiro de 2019.

António Guterres, que discursava na sede da ONU, em Nova Iorque, na abertura do encontro anual da Comissão Especial de Descolonização, afirmou que a ditadura de António de Oliveira Salazar oprimiu não apenas o povo português, mas também as populações das ex-colónias”.

As comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril decorrem no Terreiro do Paço, a partir das 9h de amanhã, com uma cerimónia militar a ser presidida pelo Chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa. No acto, vão estar presentes mais de mil militares, dos três ramos das Forças Armadas, dos quais 430 em parada.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o Primeiro-ministro Luís Montenegro vão estar presentes, assim como os grupos parlamentares que terão a palavra.

 Portugal considera um "simbolismo incomparável”  a presença do Chefe de Estado angolano em Lisboa

O ministro de Estado português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, considerou que a presença do Presidente João Lourenço nas comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos tem um "simbolismo incomparável”, porque no 25 de Abril se celebra não apenas o fim da ditadura em Portugal, mas também a independência dos povos africanos de expressão portuguesa.

"A presença do Chefe de Estado de Angola é apreciada pelos portugueses de uma forma que não tem medida e nem pode ser discutida”, afirmou Paulo Rangel, no fim de um encontro com o homólogo angolano, Téte António, que acompanha, hoje, o Presidente João Lourenço no 50º aniversário da instauração da liberdade e democracia em Portugal.

Para Paulo Rangel, no 25 de Abril não se celebra apenas a liberdade em Portugal. "Se Portugal teve liberdade no 25 de Abril (de 1974), isso foi muito pela luta de libertação que os povos africanos de expressão portuguesa tiveram nas décadas anteriores.

Portanto, o 25 de Abril não marca apenas a liberdade de Portugal e a independência dos países africanos de expressão portuguesa. Todos nós sabemos que o 25 de Abril (de 1974) aconteceu, porque o povo angolano, o povo moçambicano e tantos outros povos de expressão portuguesa estavam a lutar para a sua independência e, portanto, ajudar a libertar Portugal da ditadura”, disse.

Por isso, o ministro português concluiu que nas comemorações da Revolução dos Cravos se celebra num "processo bilateral”, sublinhando que é com sentido de gratidão que os portugueses vêem a presença do Presidente João Lourenço nas festividades oficiais, onde deverá discursar.

Relação "histórica e substantiva”

O ministro das Relações Exteriores, Téte António, disse ser sua obrigação e do homólogo português dar continuidade à relação entre os dois países, "que não é só histórica, mas também substantiva”.

O chefe da diplomacia angolana disse ter passado, rapidamente, em revista, com o homólogo português, alguns dossiers de interesse comum, sem, entretanto, referi-los. Mas, lembrou de que Angola e Portugal têm os dossiers da cooperação económica, das duas comunidades, facilitação da circulação dos respectivos povos e outros assuntos, incluindo a concertação na arena internacional, tendo em conta o papel de cada um dos países nas regiões em que estão inseridos.

"Como sabem, vim directamente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, porque dentro de uma família um dos indicadores mais importantes de uma relação são as visitas. Já tivemos uma conversa telefónica com o ministro, mas pensamos por bem que era importante estarmos juntos fisicamente e darmos o primeiro passo, que é o passo da continuidade”, disse Téte António.

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